Vinland Saga: uma representação japonesa sobre os Vikings - Leandro Vilar Oliveira

 Leandro Vilar Oliveira Doutor em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE). Email: vilarleandro@hotmail.com 

Nos últimos vinte anos o interesse pelos vikings cresceu bastante, vivenciando uma nova leva de filmes, livros, músicas e agora impulsionada por histórias em quadrinhos, videogames, blogs, podcasts, canais, comunidades nas redes sociais. Esse interesse pela Vikingmania no século XXI contribui para perpetuar antigos estereótipos sobre os vikings, mas também conceber novos estereótipos sobre esse “povo” (PONCE, 2016). E nesse sentido a produção midiática fomenta todo um imaginário sobre a Era Viking, uma produção que se revela bastante voltada para fins comerciais e de entretenimento. 


E partindo de tal prerrogativa possuímos uma profusão de novas obras que procuram retratar os vikings de forma mais realista ou tendem para o lado do fantástico. Estas produções ajudam a aproximar o público para a história medieval europeia, mesmo que na maior parte das vezes a retrate de maneira estereotipada, romanceada, idealista, sombria ou fantástica (OLIVEIRA; FREITAS FILHO, 2017). Neste âmbito a obra que decidimos abordar, trata-se de uma curiosa produção japonesa sobre vikings, a única de seu tipo. 


Vinland Saga consiste num mangá escrito e desenhado pelo mangaká Makoto Yukimura, publicado em 2005 e ainda em produção. Seu título foi baseado nas Sagas de Vinland, termo usado para designar a Saga dos Groenlandeses (Grœnlendinga saga) e a Saga de Erik, o Vermelho (Eiríks saga rauða), escritas na Islândia no século XIII, em cujas páginas narram a história da descoberta e colonização da Groenlândia, mas também contam a respeito de terras situadas mais ao oeste, o que inclui Vinland, hoje associada como sendo parte do território canadense na ilha de Terra Nova e no Golfo de São Lourenço. Entretanto, o nome Vinland é anterior a escrita dessas sagas. Na crônica do clérigo Adão de Bremen, escrita em latim, no século XI, intitulada Gesta Hammburgensis Ecclesiae Pontificum (c. 1070-1075), Adão relatou que teve uma conversa ocorrida na década de 1060, com o rei Sueno II da Dinamarca, o qual lhe contou acerca de uma ilha que era chamada de Vinland. (LOGAN, 1991, p. 86). 


Embora o mangá traga no título o nome de Vinland, o foco da narrativa não é esse. Inclusive atualmente na trama, o protagonista ainda não viajou para lá. No caso, Vinland serve de pretexto para Yukimura criar uma história própria sobre determinação, vingança e ambição, mas contendo embasamento histórico, condição essa que a narrativa transcorre entre as duas primeiras décadas do século XI, focando-se inicialmente na Inglaterra, no período que o rei Sueno I da Dinamarca estava em campanha militar para conquistar o reino inglês. Essa parte inicial do mangá foi adaptada para a primeira temporada do anime.


A proposta dessa comunicação foi analisar as representações históricas e os estereótipos presentes no mangá/anime Vinland Saga, devido a condição de ser uma obra singular com um tema pouco explorado na literatura de mangás, mas que curiosamente apresenta uma preocupação do autor em ter buscado uma fidedignidade em tentar retratar historicamente vários elementos de época, algo observável nos trajes, cenários, objetos, habitações e até em alguns costumes. Com isso, procurou-se fazer uma apresentação geral sobre o autor e sua obra, explanando alguns motivos e inspirações para ele escrever essa história sobre vikings. Em seguida realizamos uma contextualização histórica da época que a narrativa ocorre, destacando alguns personagens históricos centrais. Num terceiro momento comentamos sobre os estereótipos da série.


Makoto Yukimura revelou num relato pessoal exposto no volume 2 do mangá, que em 2003, ele viajou à Islândia para estudar sobre os vikings, a fim de preparar o plano de fundo para sua nova história. No ano de 2005 os primeiros capítulos de Vinland Saga foram publicados na revista Weekly Shonen Magazine, publicação especializada em mangás voltados para o público juvenil, sendo focados em narrativas com ação, aventura e batalhas. Entretanto, devido ao teor mais violento, o mangá trocou de editora, passando a ser publicado pela Afternoon, revista voltada para um público entre seus 18 e 30 anos. Apesar dessa mudança de faixa etária, a mangá preservou sua característica com uma narrativa baseada em acontecimentos históricos, contendo ação, aventura, drama e violência. No Brasil, Vinland Saga é publicado pela editora Panini Comics desde 2014, possuindo vinte um volumes traduzidos. 


No que se refere a inserção de Vinland Saga na literatura em quadrinhos, a temática viking é bem consolidada nas hqs, principalmente na Europa. Porém, o mercado japonês de quadrinhos é um nicho bem mais específico. Atsushi Iguchi (2010, p. 65-66) aponta que a Idade Média na literatura de mangá é algo geralmente relativo ao período medieval japonês, focando a figura do samurai. O medievo de outros lugares da Ásia, e principalmente da Europa, é tema pouco explorado. Geralmente a Idade Média nos mangás aparece na figura do cavaleiro, da princesa, do castelo, do dragão, do elfo e do mago, os quais surgem em narrativas de fantasia que necessariamente não se passam no mundo real. Nesse ponto, Iguchi (2010, p. 66) destacou Vinland Saga como sendo até então o único mangá que abordava o período medieval europeu não de uma forma fantasiosa, mas baseado em acontecimentos históricos. Algo raro para a temática medieval em mangás. Maxime Danesin (2016, p. 98-99) assinala que a pouca presença de histórias medievais europeias nos mangás, talvez seja reflexo da condição que esse seja um período histórico pouco estudado pelos japoneses. E embora tal interesse tenha aumentado nas últimas décadas com a publicação de artigos e alguns livros, ainda assim, a influência de histórias medievais nos mangás é pouquíssima, se limitando a uma visão estereotipada e fantasiosa do período.  


Embora o mangá/anime chama-se Vinland Saga, a terra de Vinland é apenas um vislumbre esporádico na narrativa. A trama inicia-se no ano de 1012 com o protagonista Thorfinn Thorsson, participando de um assalto a uma vila franca. Thorfinn é um viking do bando de Askeladd, o qual nutre um misto de ódio e admiração por seu chefe. Após o assalto a vila franca, eles partem para à Inglaterra, no intuito de se unir ao exército do rei Sueno Barba bifurcada, o qual empreendia suas campanhas militares para conquistar aquele reino. Por mais que Yukimura tenha explicado que visitou a Islândia para estudar sobre vikings, passando a ler algumas sagas e livros a respeito, ainda assim, a narrativa de Vinland Saga deve ser encarada como um romance histórico com suas liberdades autorais, e não uma adaptação baseada numa história real, pois não há muitos detalhes sobre essas campanhas. No caso, para nossos comentários, escolhemos três personagens a serem abordados: Leif Ericsson, o rei Sueno e o príncipe Canuto.

Leif Ericsson (c. 975 – c. 1020) historicamente foi o filho mais velho de Eric, o Vermelho (c. 950 – c. 1003), creditado como descobridor da Groenlândia. Pouco se sabe sobre Leif, além do que é narrado na Saga de Eric, o Vermelho e na Saga dos Groenlandeses. Ele é considerado o “descobridor de Vinland”, tendo realizado isso por volta do ano 1000, o que lhe rendeu a alcunha de “Leif, o Sortudo”. Porém, seus planos de exploração daquela terra foram interrompidos após a morte de seu pai, o que levou Leif assumir as terras dele e outros assuntos, fazendo-o desistir das viagens. Em compensação, seus irmãos retornaram a Vinland para explorá-la. As duas sagas narram tais expedições. Todavia, tais acontecimentos não são mencionados no mangá/anime. (HOLMAN, 2003, p. 173). Em Vinland Saga, o personagem de Leif Ericsson não apresenta praticamente nenhuma ligação com a Groenlândia. Ele somente cita aquela ilha quando diz que foi de lá que partiu em viagem pelo mar e acabou descobrindo Vinland. Menções ao seu pai e irmãos também não aparecem na narrativa. Além disso, Leif é um personagem cômico, um navegante tido como preguiçoso, falastrão e supostamente mentiroso, pois muitos não acreditam que Vinland fosse real.


O próximo personagem histórico é o rei Sueno, o qual assim como Leif, aparece brevemente na narrativa. Neste caso, historicamente o rei Sueno I da Dinamarca (c. 965 – 1014), cognado de Barba Bifurcada, foi filho de Haroldo Dente-Azul e Gyrid Olafdottir, tendo sucedido seu pai após um golpe de Estado para destroná-lo em 986, assumindo assim o domínio sobre a Dinamarca e sul da Noruega. Na década de 990, Sueno já apresentava interesse de invadir a Inglaterra no intuito inicialmente de recuperar os territórios perdidos do Danelaw (antigas terras dominadas pelos nórdicos na Inglaterra), algo ocorrido poucas décadas antes (HOLMAM, 2003, p. 27). A campanhas militares empreendidas entre 1009 a 1012 repercutiram em grande vitória no ano de 1013, o que obrigou o rei Etereldo II a abandonar o país, indo se refugiar na Normandia, na França. Com a fuga do monarca inglês, Sueno foi reconhecido por alguns nobres ingleses como legítimo soberano da ilha. Entretanto, ele não viveu bastante tempo para poder organizar seu novo reino, vindo a falecer em fevereiro do ano de 1014 (LUND, 1993, p. 62). 


No mangá, o rei Sueno é mencionado algumas vezes no Arco Guerra, aparecendo mais no final deste arco, apesar de alguns dos acontecimentos apresentados não sejam históricos, mas ficcionais. Nessa versão, o rei é retratado como um homem de meia-idade, com rosto bastante enrugado e uma aparência quase decrépita. Sueno sempre é representado usando coroa, que lhe concede um visual estereotipado dos reis medievais, que na maioria das vezes são retratados usando coroas. 


Quanto ao príncipe Canuto Sveisson (c. 995/997 – 1035), esse foi o segundo filho de Sueno com uma nobre de identidade desconhecida. Pouco se sabe sobre a infância e juventude do príncipe, no entanto, entre os anos de 1013-1014 ele estava presente na Inglaterra, já no comando de tropas, mesmo sendo um adolescente. Enquanto isso, seu irmão mais velho, Haroldo (994-1018), atuava como regente na Dinamarca. Na História, Canuto somente ganhou destaque quando foi coroado rei em 1018, após seu irmão falecer, vindo assim a herdar os reinos da Dinamarca e Inglaterra e depois reconquistar o sul da Noruega. Durante seu longo reinado, Canuto obteve muitas vitórias políticas e militares, criando um “império no mar do Norte”, feito que lhe rendeu a alcunha de Canuto, o Grande (BOLTON, 2017). 


Todavia, em Vinland Saga, Canuto ainda é um príncipe e o que foi retratado no mangá é essencialmente ficção, já que Yukimura não se preocupou em narrar as campanhas que Canuto realmente teria participado, ainda mais que o Canuto que ele criou, seja um personagem diferente do que foi na realidade. Em Vinland Saga o príncipe é um personagem intrigante, a começar pela condição de ele surgir inicialmente mascarado, usando um elmo com asas, e que cobre metade de seu rosto. Quando o elmo é removido, nota-se que se trata de um jovem de longos cabelos louros e olhos azuis. No entanto, o que chama atenção na sua aparência é o fato de ele ser andrógino, a ponto de ser confundido com uma mulher. O autor decidiu conceder essa aparência duvidosa como parte de acentuar a ideia de um príncipe delicado e fraco. Inclusive essa dúvida se ele seria realmente homem ou não, é apresentada algumas vezes por alguns personagens, além de servir de motivo de deboche também.


Além dessa aparência andrógina, Canuto é inicialmente retratado como características de um rapaz covarde, além de ser bastante tímido e mimado por seu tutor. Ao longo do desenvolvimento do arco Guerra, Canuto vai amadurecendo rapidamente, até que ele passa a adotar uma postura mais séria e fria, indo confrontar seu pai que o odeia. Porém, Canuto, assim como Askeladd, ambos assumem um papel ambíguo, algo que combina com o fato dessa narrativa ser um drama de aventura medieval na Era Viking, pois os dois em dados momentos são vítimas de seus pais, mas em outros momentos eles se tornam os opressores. Diferente de outros quadrinhos sobre vikings, como Thorgal, Northlanders, Pathfinder e Vikings (baseado na série homônima), onde o foco é a aventura e a ação, Vinland Saga em dados momentos adota um ritmo mais lento e quase novelesco, apresentando os dramas pessoais de seus personagens. 


Na última parte da análise, comentamos acerca dos estereótipos presentes na narrativa. De fato, Makoto Yukimura realmente esforçou-se para evitar estereótipos bem comuns, isso é algo que deve ser dito, especialmente com determinados detalhes que ele apresenta acerca da cultura material em quesito de vestuário, adornos, habitações e móveis. Ainda assim, sua narrativa não escapou totalmente dos estereótipos. Se por um lado, Yukimura procurou retratar de forma mais fiel possível a cultura material do período, mostrando os vikings trajando cota de malha, túnicas e couraças de couro ou lã, além de mostrá-los nem sempre barbudos (visual estereotipado marcante ainda hoje), mas com bigodes, cavanhaques, barbichas e até imberbes, assim como, mostrar os guerreiros lutando não apenas com espadas e machados, mas usando também lanças, arco e flecha (imagem 1).


Grupo de pessoas fantasiadas posando para foto

Descrição gerada automaticamente

Imagem 1: cena do anime Vinland Saga (2020). Observa-se os guerreiros com cavanhaques, barbichas, cabelos curtos, alguns usando lanças, outros portam machados, outros utilizam diferentes tipos de elmos. E no tocante as vestes, nenhum traja armaduras ou peles de animais, visual visto em alguns filmes, jogos e outros quadrinhos, que carrega um aspecto estereotipado. 


No entanto, o maior estereótipo que se sobressai em termos de cultura material são os cornos de bebida, elemento marcante do imaginário sobre os vikings. No entanto, o uso de tais utensílios não era tão habitual assim, ao ponto de substituir copos e taças. E em alguns casos, chifres de bebida eram utilizados em cerimônias ou para se brindar algo ou alguém (CAMPOS, 2015). Porém, no mangá/anime, toda cena onde aparece alguém bebendo, não importa se seja o rei ou um soldado, todos estão bebendo em cornos. E isso é tão marcante, que nas cenas de banquete não se ver copos, canecas ou taças, mas somente os chifres de bebida. 


Outro estereótipo interessante a nível de cultura material é a presença de elmos com asas. Se por um lado o autor preocupou-se em não apresentar de forma alguma elmo com chifres, ainda assim, elmos com asas aparecem em dois contextos bem específicos: um trata-se do elmo que o príncipe Canuto usa para ocultar sua identidade; o outro exemplo é quando aparecem as valquírias. Embora a mitologia nórdica seja pouco citada no arco Guerra, as valquírias e o Valhala são mencionados, principalmente quando os personagens que são guerreiros, conversam sobre o que lhes aguardariam depois da morte. Nesse sentido, o visual das valquírias foi baseado na ópera wagneriana, que no final do século XIX, popularizou o visual de valquírias usando elmos com asas, usando longos vestidos e couraças de aço (Imagem 2). Esse visual tornou-se tão icônico que até hoje é comum vê-lo ainda associado ao imaginário das valquírias, mesmo que tenha sido uma invenção estética para ópera (LANGER, 2002a, p. 7). 


Foto em preto e branco de grupo de pessoas posando para foto

Descrição gerada automaticamente

Imagem 2: Comparação entre o visual das valquírias no anime de Vinland Saga (2020) e uma fotografia com as atrizes interpretando valquírias na ópera A Valquíria em 1896. 


Outros estereótipos contidos na história são referentes a violência. Aqui é preciso salientar que há uma diferença da violência como entretenimento (algo comum em alguns tipos de mangá), a qual ocorre nas batalhas e lutas, e a violência estereotipada que se revela bem exagerada e até mesmo clichê. Langer (2002b, p. 87-88) comenta que as artes literárias e visuais popularizaram a imagem de que todo viking seria um guerreiro bruto, impiedoso e cruel, o qual matava, roubava, torturava e até estuprava sem remorso algum. Essa ideia advém do imaginário dos vikings terem sido bárbaros, e neste caso, os bárbaros ainda hoje são vistos como pessoas incivilizadas, selvagens, violentas e rudes. Algumas dessas características foram mantidas em Vinland Saga, onde encontram-se cenas de batalhas nas quais personagens como Askeladd, Bjorn e Thorkell, o Alto, arrancam braços e cabeças, além de haver cenas com sangue espirrado na neve ou campos com vários cadáveres. Essa violência gráfica, em parte pode ser entendida como escolha para mostrar a brutalidade de combates com armas brancas, mas na maioria das vezes é uma “violência estética”, exagerada para causar impacto e admiração, o que nos faz retomar a violência como entretenimento, como citado anteriormente, além de ser prática comum nos filmes e séries sobre temática viking. E pela condição de Vinland Saga ser um mangá de drama, ação e aventura, a presença de cenas violentas é comum nesse tipo de literatura. 


Vinland Saga se revelou um mangá não apenas de sucesso devido a sua longeva publicação e recentemente a boa crítica que vem recebendo de alguns sites em referência a primeira temporada do anime, mas a história possui seus méritos: a começar pela qualidade dos traços, os quais embora conservam elementos do mangá, ainda assim, são mais realistas. No que se refere ao teor histórico da trama, nota-se que embora a narrativa possua os estereótipos assinalados anteriormente, ainda assim, o autor conseguiu trazer vários elementos da cultura nórdica da Era Viking, além de informações históricas sobre as campanhas de Sueno, algo visível nos comentários feitos no mangá, informando datas e os nomes de lugares (Imagem 3). 


Uma imagem contendo texto

Descrição gerada automaticamente

Imagem 3: Um dos mapas desenhados por Yukimura para situar e contextualizar a narrativa do protagonista Thorfinn. 


Aqui merece ser destacado que em Yukimura apresenta geralmente no final do capítulo, um mapa da região onde a história está ocorrendo, informando a localização dos personagens, o nome de localidades reais, datas e até rotas que os personagens percorreram. É evidente que algumas dessas rotas e batalhas são ficcionais, ainda assim, a preocupação do autor em contextualizar isso, como se fosse um relato histórico, é bastante interessante, já que tal narrativa não consiste numa obra didática, mas de entretenimento. 


Embora Vinland Saga aborde um acontecimento já clichê sobre os vikings, que consiste na invasão da Inglaterra, algo bastante retratado em livros e mais recentemente em evidência nos seriados como Vikings e The Last Kingdom, no entanto, Yukimura decidiu apresentar algo diferente, pois enquanto essas séries focam o período da grande invasão viking à Inglaterra, ele decidiu abordar uma época pouco trabalhada na literatura, que é o reinado de Sueno e o começo do reinado de Canuto, dois acontecimentos que chamaram atenção dele, por serem contemporâneos as expedições a Vinland. Nesse sentido, Vinland Saga apresenta à literatura de ficção baseada em acontecimentos históricos, uma abordagem singular, tanto por se tratar de uma época pouco trabalhada, quanto por ser algo totalmente inédito no contexto dos mangás, já que não existem obras como essa, sobre vikings propriamente, embora eles tenham aparecido de forma estereotipada em outras narrativas. Neste ponto, acrescentamos a esta consideração, alguns comentários de Danesin (2017, p. 195), o qual defende a opinião que Vinland Saga conseguiu introduzir a temática viking no Japão de forma satisfatória, apresentando acontecimentos históricos através de um linguajar moderno e voltado para o público jovem na atualidade. 


Bibliografia 


Fontes 

YUKIMURA, Makoto. Vinland Saga, vol. 1-8. São Paulo: Panini, 2014-2015. 

VINLAND SAGA, temporada 1. Dirigido por Yabuta Suhei. Produzido por VINLAND SAGA PROJECT. Tóquio: WIT STUDIO, 2019, online (23 min), color, som. Disponível em: https://www.primevideo.com/. 


Obras de consulta: 

BOLTON, Timothy. Cnut the Great. New Haven/London: Yale University Press, 2017. 

CAMPOS, Luciana de. A sacralidade que vem das taças: o uso de bebidas no  Mito e na Literatura Nórdica Medieval. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano VIII, n. 23, Setembro/Dezembro de 2015, p. 97-107. 

DANESIN, Maxime. Beyond Time & Culture: The Revitalization of Old Norse Literature and History in Yukimura Makoto’s Vinland Saga. Mutual Images, vol. 2, 2017, p. 184-217. 

_______. The European Middle Ages through the prism of Contemporary Japanese Literature: a study of Vinland Saga, Spice & Wolf and I’Éclipse. Mutual Images, vol. 1, 2016, p. 94-122. 

HADLEY, Dawn M. The Creation of Danelaw. In: BRINK, Stefan (ed.). The Viking World. London/New York: Routledge, 2008, p. 375-378

HOLMAN, Katherine. Historical dictionary of the Vikings. Lanham: Scarecrow Press Inc, 2003.

HOWARD, Ian. Swein Forkbeard’s invasions and the Danish Conquest of England 991-1017. Woodbridge: The Boydell Press, 2003. 

IGUCHI, Atsushi. Appropriating the Other on the Edge of the World: Representations of the Western Middle Ages in Modern Japanese Culture. Journal of the Open University of Japan, n. 28, 2010, p. 63-69. 

LANGER, Johnni. The origins of the imaginary Viking. Viking Heritage Magazine, v. 4, n. 2, 2002a, p. 6-9.  

_______. Os vikings e o estereótipo do bárbaro no ensino de história. História & Ensino, Londrina, v. 8, out. /2002b, p. 85-98. 

LOGAN, T. Donald. The Vikings in the history. 2. ed. London/New York: Routledge, 1991.

LUND, Niels. Sven Haraldsson (Forkbeard). In: PULSIANO, Phillip; WOLF, Kirsten (eds.). Medieval Scandinavia: An Encyclopedia. New York: Routledge, 1993, p. 627. 

OLIVEIRA, Beatriz dos Santos; FREITAS FILHO, Mario Marcio. A Idade Média no Cinema: uma (re)visão do Imaginário Ocidental. Revista ComparArte, Rio de Janeiro, v. 01, n. 01, Jan/Jun 2017, p. 142-150.

PONCE, Ariel Gómez. El retorno de los bárbaros. Frontera semióticas y desmitificación de complejos culturales en la figura del vikingo. Revista de Culturas y Literaturas Comparadas, v. 6, 2016, p. 1-15.

Comentários

  1. Bom dia, Leandro

    Gostei bastante da fonte escolhida, bem como da temática a ser trabalhada nela.
    Mas gostaria de saber o que você está querendo dizer com a ideia de que os mangás que retratam a Idade Média, sem ser sua fonte, teriam "uma visão estereotipada e fantasiosa do período".
    Lanço duas perguntas que me ajudarão a entender melhor essa diferença que você estabeleceu entre Vinland Saga e um mangá como Berserk, por exemplo.

    1) O que você está colocando na categoria 'estereótipo'? São personagens? São acontecimentos? Questões mais de ilustração ou de narrativa?

    2) Você não vê em Vinland Saga personagens estereotipadas? O rei com a coroa o tempo todo, o ato de beber com os chifres, os elmos com asas e as vestimentas, a meu ver, são estereótipos. Isto é, seria sua fonte menos estereotipada somente por inserir na narrativa personagens fictícios baseados em personagens históricos?

    Por fim, tenho uma outra pergunta a título de curiosidade:
    3) Você chegou a comparar as narrativas e construção de personagens em quadrinhos ocidentais e os mangás? Se sim, notou alguma semelhança? Algo interessante de ressaltar? Fiquei bastante curiosa!

    Obrigada desde já pela atenção e ótimo dia!

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    1. Olá, Lunielle.

      1) Estereótipo é toda representação sobre ideias, comportamentos, costumes, visual, lugares, pessoas, animais, crenças, culturas, sociedades, etc. que apresentam algum grau de distorção, elucidando elementos positivos ou negativos. No caso de Vinland Saga, apesar do embasamento histórico da história, ela apresenta vários estereótipos, o que inclusive é comum na literatura de quadrinhos. Neste breve texto eu salientei que alguns dos estereótipos mais tradicionais como vikings usando elmos com chifre, sendo brutamontes, barbudos, sanguinários, bebendo em crânios, usando peles de animais e realizando rituais com sangue, foram descartados pelo autor. Porém, assinalei que outros estereótipos foram mantidos.

      2) Vejo sim personagens estereotipados em Vinland Saga, inclusive cito o caso do Canuto. O pai dele usando coroa toda hora é um estereótipo também. E o Thorkell, o Alto é outro personagem estereotipado. Quanto a essa narrativa ser menos estereotipada por ter personagens fictícios baseados em personagens históricos, isso depende. No caso de Vinland para o Arco Guerra é observei isso, mas em outras situações nem sempre isso acontece. Por exemplo, temos produções brasileiras como seriados e quadrinhos que mostram D. Pedro I bastante estereotipado, enfatizando sua conduta como mulherengo. Apesar de ser um dado real, essas produções exageram nisso.

      3) Não cheguei a fazer essa comparação. Porém, o Thorfinn que é o protagonista do mangá, ele segue o modelo dos shounen, onde normalmente temos adolescentes órfãos, que passaram por problemas ou tragédias, os quais buscam superação, desafio, vingança, aventura ou aceitação da sociedade. Isso é comum nos mangás.

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    2. Bom dia, Leandro

      Obrigada por responder. Então no caso, apesar da diferença que você estabeleceu no início do teu texto (terceiro parágrafo) entre um ser estereotipado e outro não, eessa diferença não existe. Creio que se mudar a palavra fantasiosa da frase ficará mais compreensível o que quer dizer.

      ENFIM, parabéns pelo trabalho! Minha confusão mínima em nada diminui o mérito de suas análises e a ousadia em trabalhar um tema relativamente incomum na academia brasileira.

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    3. Entendi sua recomendação. Agradeço, irei considerá-la quando for atualizar o texto. Obrigado.

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  2. Ótimo texto, eu sou fã da obra Viland Saga, como também um grande apreciador de animes, mangás e etc. Ademais, sou estudante de licenciatura em história, sei que ao fazer a leitura do seu texto, é evidente que você não partiu da perspectiva do Ensino de História,optou por uma abordagem voltada para as representações. Entretanto, fiquei bastante curioso em saber a sua opinião da aplicação deste anime no âmbito educacional. Seria possível ? E se for, como você abordaria?

    José Victor Ferreira Rocha dos Santos

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    1. Obrigado pelo elogio.

      Bom, para aplicá-lo a intuito de ensino de história, é preciso adotar uma abordagem didática que faça uso de histórias em quadrinhos como material didático. Eu particularmente nunca dei aula usando quadrinhos, apesar que já o fiz usando literatura. Me recordo de uma aula que falava sobre Júlio César, e levei para os alunos a peça César de Shakespeare, aí fiz um breve comentário apontando a visão romanceada de Júlio César na peça, com os acontecimentos reais. Os alunos gostaram.

      Porém, para usar Vinland Saga em sala de aula, você teria que não apenas falar de vikings, mas abordar o período histórico no qual a narrativa se passa. E francamente, não é uma época que estudamos na escola, tampouco na universidade. O que você pode fazer é citar o mangá como um exemplo de literatura sobre vikings.

      Uma sugestão é, se possível, abordar a cultura material do mangá e do anime, a qual é bem realista. Seria interessante usá-la para abordar os estereótipos sobre os vikings, sejam em pinturas, filmes e seriados.

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  3. Bom dia ! Sou professor de História e perceber a temática Viking representada através de mangás e animes torna interessante o uso desse recurso de linguagem e de cultura juvenil um instrumento para trabalhar conteúdos históricos e despertar o interesse dos alunos.
    A partir dessa observação, gostaria de saber que tipo de armadilhas podemos evitar ao trazermos esse conteúdo de Idade Média por meio do uso de mangás ou animes ?

    André Luiz Garrido Barbosa

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    1. Professor Barbosa, eu diria que nem sempre podemos evitar algumas armadilhas. No caso do uso de mangás e animes para abordar Idade Média, caí na problemática que eu cito no meu texto, onde geralmente os japoneses somente abordam o medievo do país deles, trabalhando com samurais e ninjas. As vezes eles se aventuram no medievo chinês.

      Mas quando vão abordar medievo indiano, árabe e europeu, eles não se preocupam com realismo histórico, diferente de algumas obras sobre samurais como Vagabond, Lobo Solitário e Hanzo no Mon, que são histórias mais pé no chão.

      Logo, usar mangás e animes para abordar Idade Média, excetuando-se Vinland Saga, onde o autor teve preocupação de conceder um realismo histórico a sua narrativa, outras produções não apresentam isso.

      Por fim, em geral usar quadrinhos e desenhos, sempre há a condição da liberdade poética, onde os autores alteram determinados acontecimentos e personagens para o intuito da trama. Algo visto com seriados, livros e filmes. Então cabe ao professor saber como distinguir essas alterações e mostrar aos alunos que apesar de elas estarem presentes nessas narrativas, ainda é possível usá-las como material paradidático e até como fonte de pesquisa.

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  4. Bom dia, Leandro, tudo bem?
    Trabalho de excelente nível. Eu não conhecia a Vinland Saga. Agora, estou louco para ler. Eu gostaria muito de saber como a cultura viking chegou até o Japão e qual o nível de "inserção" cultural que esse tema tem pelo Japão, digo, podemos pensar em outra mídias que abordam os vikings e que são criadas no Japão?
    Abraços,
    LEONARDO ROCHA AMORIM

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    1. Leonardo, agradeço o elogio.

      Não sei te dizer quando a cultura viking chegou ao Japão, mas por incrível que pareça, existem alguns grupos japoneses que estudavam vikings: Department of Nordic Studies na Universidade de Tokai, Japan Institute of Scandinavian Studies e o The Japanese Association for Northern European Studies (JANES).

      Quanto a sua pergunta se os vikings seriam abordados em outras mídias no Japão, para essa pesquisa, não consegui identificar isso. Não achei outros mangás ou animes que tratem sobre eles. Já os videogames, existem alguns jogos, mas não são necessariamente produções japonesas, mas feitos nos EUA, Canadá e Europa, e vendidos nos consoles japoneses (Playstation e Nintendo).

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  5. Victor Célio Vinícius Cunha Hermógenes31 de agosto de 2020 às 10:15

    Olá parabéns pelo trabalho fenomenal, eu também trabalho com literatura. Com isso eu gostaria de perguntar se a obra consegue apresentar uma trama que consegue nos fazer pensar sobre o periodo tratado ou apenas é um bocado de visões do mundo contemporânea usando os personagens históricos.

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    1. Olá Victor. Como eu somente analisei o Arco Guerra, o qual aborda os acontecimentos de 1011 a 1014, posso dizer que ele traz uma visão contemporânea sobre os personagens históricos. Embora o autor de Vinland Saga tenha uma preocupação com um realismo histórico, todavia, a história das campanhas de Sueno na Inglaterra, não são o ponto de destaque desse arco, mas sim a trama ficcional envolvendo Thorfinn, Askeladd, Canuto e Thorkell. As campanhas e o contexto bélico, são apenas um cenário .

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  6. Boa tarde, sou aluna de história e tenho muito interesse em animes, sendo Vinland um das produções que entrei em contato esse ano.
    Como apontado, Makoto Yukimura usa de crônicas, eventos e figuras históricas para conferir verossimilhança a sua ficção e, apesar das ilustrações visuais “estereotipadas”, seu valor como material de estudo reside na sua contextualização da realidade vivida naquele período.
    Mas também promove certa quebra de esteriótipos, como ao apresentar a enorme rede comercial empreendida por essas populações.
    Entretanto, outra animação que traz um retrato convincente do mundo medieval é Junketsu no Maria (mangá de Masayuki Ishikawa), uma fantasia situada na guerra dos 100 anos, em que o retrato dessa época ( os conflitos, populações, cultura e religiosidade), é pano de fundo para debater a validade da ocorrência das guerras, mostradas como um elemento fortemente presente na história cujos desdobramentos levam a grandes transformações na sociedade.
    E tal como esta, Vinland saga também é uma obra que se apropria do contexto explorado para trazer discussões mais profundas, a exemplo a própria violência, que não é “estereotipada” ou mero entretenimento, mas sim base inerente às críticas da trama. A violência é sofrida, entendida e praticada de formas diferentes por cada personagem.
    Ao nomear seus primeiros 8 vol. como prólogo (nome que leva seu capítulo 54 e episódio final), o mangaka implica que todo esse período abordado, juntamente com toda a exibição de batalhas constantes e brutais não é o foco central de sua obra mas sim as reflexões que se seguem sobre esses eventos.
    Juntamente associado ao trabalho de Yukimura, Vagabond de Takehiko Inoue, que gira em torno da figura de um proeminente samurai que viveu ainda no “período feudal” japonês, utiliza-se da trajetória de seus protagonistas para desconstrução da figura de um guerreiro, a ver como Thorfinn lida com seu passado no arco na granja de Ketil, onde este vê-se atormentado pela vida como mercenário até por fim decidir ir contra a política extrema de Canute e culminar posteriormente numa postura pacifista muito semelhante a seu pai, de firme rejeição ao uso da violência como forma de impor poder ou se expressar.
    Assim, pode se dizer que o autor se aproveita de um contexto histórico pouco explorado no Japão para trazer uma correlação, bem como uma nova perspectiva para um debate já presente em outras obras japonesas (no caso, a prática e culto da violência e suas implicações)?
    Se sim, seu retrato bem embasado da sociedade Viking é também permeado por sua crítica e reflexão pessoal. Logo, em uma aplicação em sala de aula, como devo atentar os alunos para tais nuances entre a trama, os fatos, as representações e apropriações? Será que no seria mais interessante destacar também as percepções e intenções do autor em sua representação, a fim de despertar neles uma visão crítica mais apurada para possibilitar suas próprias avaliações? Ou é preferível só recortar e mostrar o que for fato histórico e a narrativa da grade curricular?

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    1. Olá Michelly. Gostei de suas perguntas, são bem pertinentes. E sua reflexão sobre a violência é algo bastante interessante. Eu não voltei a ler o mangá de Vinland Saga após o término do Arco Guerra, então não vou comentar sobre os acontecimentos posteriores.

      Quanto ao mangá Junketsu no Maria, eu não o conheço. Mas acho que já ouvi falar nele.

      Mas, indo as suas perguntas, é possível fazer ambas as coisas que você sugeriu. A questão vai depender da proposta de sua aula e da maturidade e interesse dos alunos. Pois as vezes os alunos estarão mais interessados em saber o que é fato histórico e o que é ficção. Todavia, se eles tiverem interesse por essas nuances do discurso, do simbolismo e da crítica, então válido investir nisso.

      Inclusive é algo recomendado quando se utiliza material artístico como suporte didático, pois as vezes os professores exibem filmes e animações, mas não se preocupam em aprofundar um discurso crítico da obra, usando-os apenas como entretimento.

      Sendo assim, se for possível abordar as percepções e intenções do autor, o discurso, a linguagem de mangá/anime, o imaginário, estereótipo, etc. Tente isso, algo que vai enriquecer sua aula e até mesmo necessário, pois inclusive vivenciamos um momento onde tem pessoa que assistem filmes e seriados sobre vikings e julgam aquilo como sendo a mais plena realidade, como se fosse um documentário, não uma obra de entretenimento pautada em acontecimentos históricos. Além de haver pessoas que não compreendem o que significa romance histórico.

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    2. Obrigada pela sua resposta resposta. Estarei atenta aos seus comentários.
      Quanto ao mangá, após o prólogo o ritmo da história muda bastante, inclusive a personalidade do Thorfinn.

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    3. Ouvi dizer isso. Inclusive achei o personagem bastante chato, no Arco Guerra. Vou providenciar o mangá. Obrigado.

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  7. Olá, Leandro. Gostaria de primeiramente te parabenizar pelo texto. Você não vê em Vinland Saga o inverso daquilo que é costumeiramente atribuído como orientalismo por Edward Said, em produções ocidentais a respeito do oriente? Ou você considera essas generalizações (tipo o ato de beber em cornos) como uma forma que o anime se utilizou para acessar um público previamente interessado no tema e que sem esses signos não iria reconhecer os personagens como vikings? Outra dúvida que eu tenho é: como é possível atricularmos Vinland Saga com a representação dos povos nórdicos na série Vikings (2013)? Que é uma produção ocidental sobre o tema e que é perceptível que está recheada de esteriótipos - como o viking guerreiro, bárbado, e beberrão. No demais, eu gostei muito do teu texto!
    Abraços,

    Rodrigo Fernandes Vicente

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    1. Olá, Rodrigo, obrigado pela felicitação. Vamos as respostas.

      Se Vinland Saga seria um inverso da ideia de orientalismo do Said, sendo uma espécie de "ocidentalismo", acho complicado responder agora, devido a falta de material comparativo. Não há outras produções nipônicas que versam sobre o mesmo tema. Além da condição que o Yukimura baseou-se nos estereótipos europeus para falar de vikings. Sendo que isso foi criado pelos próprios europeus, não por asiáticos, africanos ou americanos, diferente do orientalismo que consiste numa visão concebida pelos europeus quanto a Ásia.

      Quanto a comparar Vinland Saga com a série Vikings é possível fazer isso através da comparação da cultura material, costumes e o imaginário. Mostrando que embora sejam produções que abordem o mesmo tema, elas possuem linguajar diferente, e até trazem estereótipos diferentes, mas outros em comum.

      Lembrando que a ideia de vikings apenas como guerreiros, barbudos e beberrões é algo que vem sendo desenvolvido desde o século XIX. Logo, é um imaginário já consolidado no Ocidente. E dificilmente qualquer obra sobre vikings, escapa disso. Pois imaginários fazem parte da forma como adaptar e contar histórias para diferentes mídias e finalidades.

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  8. Olá, gostaria de parabenizá-lo pelo texto, bem escrito e sucinto enquanto algumas questões pertinentes ao se discutir sobre a Idade Média e os esteriótipos que, amiúde, algumas narrativas disseminam sobre esse período histórico.

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  9. Olá Leandro Vilar, tudo bom? Primeiro deixo meus parabéns aqui pelo excelente trabalho, foi uma ótima leitura. De fato, é nítido o grande interesse pela temática vikings em seu contexto geral, sejam utilizados em filmes, animes, games, quadrinhos, etc. o próprio anime “Vinland Saga” se encontra em destaque desde o ano de 2019, recebendo diversos prêmios.
    Sabemos que os desenhos de caráter vikings e seu vigor físico, brutalidade, uso de dragões como no filme “Como treinar seu dragão”, entre outros, fazem grande sucesso no público infantil. Desta maneira, lhes pergunto: o uso desta temática no ensino infantil poderia ser uma janela para introdução produtiva das temáticas medievalista?

    Kleitson Emanuel da Silva.

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    1. Kleitson, eu tenho alguns amigos que já tentaram aplicar RPG, jogos, desenhos e filmes sobre Idade Antiga e Idade Média em sala de aula. Isso é possível, mas há alguns problemas: a coordenação e direção talvez não gostem (tenho conhecidos que passaram por isso), algum pai de aluno se souber pode achar ruim.

      Se no seu caso, não há tais empecilhos, o que pode ser feito é mostrar fotografias desses desenhos, ou trailers, ou alguma cena específica para tratar de algum assunto. Lembrando que Vinland Saga é um anime dirigido para um público juvenil e adulto.

      Quanto a Como treinar seu dragão, é uma produção mais infantil, apesar que mostre os vikings com elmos estereotipados, e tenda mais para o lado da fantasia.

      Quanto a usar essas temática sobre vikings para despertar o interesse pelo medievo, pois bem, atualmente a vikingmania está em alta. A questão é que normalmente histórias com vikings tem um tom mais violento e adulto. Caberia ao professor como censurar isso para adequar a faixa etária da turma.

      Porém, crianças curtem histórias de cavaleiros, princesas, dragões, magos, bruxas. Acho que introduzir os vikings e mostrar os fatos e estereótipos, seria bacana. Eu mesmo já assisti uma aula numa escola, onde vi um living history sobre vikings. Era uma disciplina de história, e na ocasião os alunos estudavam sobre comércio na Idade Média. E muitos nem sabiam que os vikings foram hábeis comerciantes.

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