Marginalidades em tempos de pandemia – extrema direita no Brasil e seus neomedievalismos - Suelen Ferreira

 Suelen Geozi Ferreira Graduanda em História - Universidade Federal Rural do rio de Janeiro. Email: sgeozi@gmail.com


O que a extrema direita viu em Jair Messias Bolsonaro? Qual a expectativa ao eleger Bolsonaro? Uma política que viesse a favorecer sua base? Que é essa direita brasileira hegemonicamente branca e que acredita em cavaleiros templários, supremacia racial e em um cristianismo soberano e verdadeiro, que vem acima da ciência e acima de qualquer outra coisa?


Quando se fala em Europa, se torna muito fácil localizar o medievalismo político, pois afinal a Europa tem suas raízes medievais. Logo, podemos ver políticos europeus declarando origens com linhagens de reis medievais, templários ou tantas outras coisas. E assim afirmar um discurso medievalizante.


Norberto Luiz Guarinello (2013) diz em sua introdução “história antiga e memória social” que no mundo contemporâneo, o Estado é o maior e mais eficaz produtor de memórias sociais” que nós “assumimos de modo quase que natural e inconsciente, que somos parte da história do ocidente”. O que torna a História como é ensinada há tempos nos livros didáticos e por aparatos estatais algo que 


[ ...]coloca-nos numa linha do tempo, nos posiciona na História mundial como herdeiros do Oriente Próximo, da Grécia e de Roma. Por ela viramos sucessores da história medieval e a História do Brasil se torna um ramo da história européia nos tempos modernos quando nosso território foi colonizado pelos portugueses a partir do século XVI.


Ou seja, para falar na América, temos um problema. Não existe um passado medieval nas américas, que não um recriado ou mesmo apropriado de nossos colonizadores. Logo, o que poderia ou não ser considerado medievalismo político em uma conjuntura brasileira ou até Norte-Americana? Quando um político não pode apelar para suas origens tacitamente medievais, o que poderia garantir sua permanência ou ascenção frente aos seus seguidores que proclamam essa supremacia que tem por base princípios medievalizados?


Richard Utz (2020), em “Medievalism in the Age of COVID-19: A Collegial Plenitude” apresenta um compilado que em suas palavras produzem uma série de “notícias, reflexões, reportagens, gritos e vinhetas”. Ele questiona o que os medievalistas ao redor do mundo estavam fazendo antes, o que fazem durante e quais as perspectivas para um momento pós-pandemia COVID19. Entre as mais variadas respostas, destacam-se duas que dialogam com nossos propósitos neste trabalho. Mathias Berger em suas reflexões fala sobre “usos nacionalistas de um passado profundo” e reflete que “as memórias culturais da idade média continuam a mudar constantemente para temas de pertença nacional, não só na Grã-Bretanha, mas também em formas um pouco mais consequentes” e se diz ansioso para ver como estudiosos do medievalismo irão “se fazer ouvir à medida que os desafios globais impulsionarem ideias de nacionalismo exepcional antigo”. E Dina Khapaeva, ao observar a Rússia de Putin diz “ Parece que na Russia a Pandemia só vai reforçar os projetos neomedievais. Será que os países com uma tradição democrática mais forte terão mais sucesso em enfrentar os desafios do neomedievalismo em meio a uma praga moderna?”

 

Uma das imagens que já se tornou símbolo de representação dos estudos de medievalismo político, não só brasileiro, porém uma espécie de alerta atemporal de que algo definitivamente não está caminhando muito bem, é a figura de políticos da extrema direta retratados como cavaleiros em armaduras reluzentes, portando insígneas de ordens supostamente medievais, por vezes trazendo escudos, espadas e/ou estandartes. De acordo com o historiador Carlile Lanzieri Júnior (2019) podemos afirmar que   as representações atuais em formato de “memes” são uma forma de releitura do quadro “O Porta-Estandarte”, pintura (1934/6) de Hubert Lanzinger: propaganda de Hitler. Onde para cada imagem/meme se tem uma representação central daquele que seria o cavaleiro perfeito, que vem salvar seu povo das mazelas sofridas. Em casos contemporâneos vemos alegações que variam entre comunismo, virtudes como moral e família, e a promessa de prosperidade econômica. Observando a sequência de imagens abaixo podemos concluir que tal como, em governos populistas de um passado recente, em cada lar encontrava-se a figura de um presidente adornada em local de destaque, atualmente a encontraremos em sites, perfis pessoais em redes sociais ou mesmo em expoentes de campanhas políticas. Transformando este tipo de imagem na perfeita representação do neomedievalismo político da extrema direita.

 

Figura 1 nesta sequência de imagens temos: O porta estandarte. Hubert Lanzinger (1880-1950), óleo sobre madeira, c. 1934-1936 (Imagem disponível na Internet no endereço eletrônico https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,desprezo-de-hitler-pela-democracia-e-um-aviso-para-os-dias-de-hoje,70002470717.amp ), uma imagem recorrentemente compartilhada em mídias socias durante a campanha de Donald Trump em 2016 conhecida como “cavaleiro de armadura brilhante” disponível em https://knowyourmeme.com/memes/people/donaldtrump/photos/trending/page/2?gallery_cache_key=  e imagem de Jair Messias Bolsonaro que durante sua campanha em 2018 foi compartilhada em redes sociais, muitas vezes sob a legenda “Bolsovult” disponível em https://www.ocarcara.org/bolsonaro-no-roda-viva/.


Ainda em 2019, como um reflexo das campanhas e após a efetiva vitória de Bolsonaro nas urnas, frente às repercussões de discursos medievalizados pelos eleitores de Bolsonaro, o historiador Paulo Pachá, escreveu em seu artigo “Porque a extrema direita brasileira ama a idade média européia” que

No Brasil de Bolsonaro [...] Este revisionismo reacionário apresenta o Brasil como a maior conquista de Portugal, enfatizando uma continuidade histórica que coloca os brasileiros brancos como os verdadeiros herdeiros da Europa. Desse modo, por meio de uma visão genética da história, a extrema direita enquadra a história brasileira como essencialmente ligada ao próprio passado medieval imaginariamente puro de Portugal.(PACHÁ, 2019).


Fica claro que Bolsonaro foi eleito por um público que crê nessa tese de um passado medieval romântico no qual brasileiros teriam uma herança medieval por ocasião de seus antepassados colonizadores portugueses. Mas a questão que fica é: e os outros brasileiros? Aqueles que não se enquadram em um perfil branco, os negros, os índios, os que imigraram. 


O Objetivo desse estudo é apontar na ascensão das extremas direitas, os perigos dos discursos de uma supremacia religiosa e racial, quando reforçada pelas políticas daqueles que esse público elege. E demonstrar como, em um contexto de pandemia, esse discurso político que até então se resumiu a “gracejos de palanque” afetam diretamente a vida de centenas de brasileiros que “fogem” a regra do hegemonicamente branco e cristão e colocar em curso uma agenda neoliberal e genocida.

 

Temos como eixo para esta análise ( e que servirá de “liga” para a construção de nosso debate) o conceito de medievalism. Thamires Chagas D’Alcantara, no primeiro capítulo em seu TCC (primeiro no Brasil sobre a temática) intitulado “O medievalismo e a colonização da idade média como método de pesquisa da história” nos apresenta um debate historiográfico acerca do tema, desde as primeiras publicações, à sua consolidação enquanto campo de pesquisa e debates na atualidade e diz que 

 

Esse avanço nas reflexões e quebras de paradigmas que a disciplina histórica vem galgando está ligado diretamente com os estudos pós-coloniais e pós-modernistas, que proporcionaram aos historiadores, principalmente os medievalistas, a partir da década de 1980, uma nova reflexão no modo de conceber, interpretar e escrever a história – sobretudo medieval (D’ALCANTARA,2017, p.9)

 

O fazer historiográfico do medievalismo nada tem a ver com uma busca por permanências ou continuidades sejam de instituições ou modos de agir ou pensar referentes à Idade Média enquanto um período vivido pela sociedade. Porém, trata-se de, por meio deste conceito, trabalhar categorias que possam demonstrar como uma imagem social, política e filosófica foi construída acerca do tema Idade Média, a partir de uma ideia de modernidade e ainda hoje é amplamente difundida e trabalhada seja no campo acadêmico, religioso, social ou político através de um discurso medievalizante. 

D’Alcântara (2020) em sua dissertação, ao se referir ao trabalho de Altschul e Davis (2009), afirma que para as autoras

 

“Idade Média”, além de ser a delimitação de um tempo histórico é, também, concebida como uma ideia ou um conceito e, não somente como uma entidade temporal, podendo, portanto, ser uma “categoria móvel, aplicada a qualquer tempo ou sociedade” ( para legitimar uma ação ou depreciar um determinado lugar), evidenciando outros espaços e deslocando o foco da Europa, permitindo uma maior ampliação de estudos relacionados à ideia de “Idade Média”. (D’ALCANTARA, 2020, p.47)

 

O medievalismo tem como objeto de análise a contemporaneidade, e por suposto, suas fontes serão advindas do período, ou situação analisada. Neste breve trabalho, veremos fontes produzidas no tempo presente, no qual as figuras políticas sobre as quais trataremos expõem suas falas e atos políticos. Sendo assim, utilizaremos desde menções em contas de redes sociais como Twitter e Facebook (ou referências mantidas em jornais digitais quando as publicações não estiverem mais disponíveis para consulta nas contas onde originalmente foram publicadas).

 

O conhecimento da área das humanidades a cada momento vem sendo descredibilizado, e desestimulado na medida em que cada vez menos podemos contar com bolsas e programas de fomento à pesquisa nessas áreas, uma vez que em meio à pandemia foi emitida uma portaria (Portarias 19, 20 e 21/2020) que na prática diminui a capacidade de gerenciamento de bolsas, novas concessões e anuncia possibilidade de cortes futuros.

 Podemos citar as tentativas do Governo Federal de minimizar as preocupações da população em geral com relação à Covid19 quando, desde o primeiro momento, vem negando sua potencialidade tanto de contaminação, quanto sua letalidade. Que pode ser visto no trecho a seguir do pronunciamento oficial do presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro, veiculado nas emissoras de tv aberta para todo o país no dia 23 de março de 2020 


“ Um cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país. Contudo, percebe-se que, de ontem para hoje parte da imprensa mudou seu editorial: pede calma e tranquilidade. Isso é muito bom, parabéns imprensa brasileira. É essencial que o equilíbrio e a verdade prevaleçam entre nós. O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa.” (BOLSONARO,24/03/2020)


Nessa e em outras falas públicas, o presidente põe a culpa do que chama de “histeria” sobre “uma gripezinha” na mídia. Tudo isso enquanto não fez qualquer movimento no sentido de ampliar leitos, ou garantir suplementos necessários para o controle do avanço da COVID19 nos hospitais. Ao ponto de o Superior Tribunal de Justiça a todo tempo necessitar buscar meios de contornar tais ações, como, por exemplo, quando decidiu que seria de responsabilidade dos Estados e Municípios deliberar sobre manutenção ou “relaxamento” das medidas de quarentena.


Antes que houvesse qualquer estudo que viesse a comprovar a origem do Novo Coronavírus o Deputado Eduardo Bolsonaro (filho do presidente da República) no mês de março causou o princípio do que poderia ter sido uma crise internacional com a China, a partir de publicações em sua conta oficial no twitter onde publicou 


“Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. […] +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. […] A culpa é da China e liberdade seria a solução”. (Bolsonaro.Eduardo, @bolsonaroSP. 18 mar 2020 às 11:38AM) 


Em resposta a esta publicação, a embaixada da China no Brasil divulgou nota em sua conta oficial  da mesma rede social exigindo retratação do Deputado Eduardo Bolsonaro onde em um dos trechos diz: 


“Como deputado federal e figura pública especial, as palavras do Eduardo Bolsonaro causaram influências nocivas, vistas como insulto grave à dignidade nacional chinesa, e ferem não só o sentimento de 1,4 bilhão de chineses, como prejudicam a boa imagem do Brasil no coração do povo chinês.[...] Tal comportamento é totalmente errôneo e inaceitável, veementemente repudiado pelo lado chinês. O embaixador Yang Wanming já comunicou ao chanceler Ernesto Araújo a nossa posição solene. Temos pleno conhecimento da política externa brasileira com a China e acreditamos que nas suas linhas não houve qualquer mudança.” (Embaixada da China, @embaixadaChina,19 de mar de 2020 às 9:27 PM)


Em resposta às repercussões causadas por sua publicação o Deputado Eduardo Bolsonaro manifestou-se em sua rede social oficial no Twitter. Desta vez divulgando uma nota oficial sobre o assunto onde sustenta que não ofendeu o povo chinês e “tal interpretação é totalmente descabida”. Reforça que compartilhou “postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia”. Ressalta sua imunidade parlamentar como garantia constitucional pois seria sua “função parlamentar estimular o debate”. O deputado segue em sua nota reforçando informações sem base científica ou referencial teórico afirmando que “Na comunidade médica, é bem comum que doenças sejam batizadas em referência à localidade de origem da mazela como no caso da gripe espanhola”.


Apesar das diversas suposições sobre como a gripe espanhola se espalhou, a teoria mais forte é a que faz relação entre a gripe e o fim da Primeira Grande Guerra, onde ao retornar para seus lares, muitos soldados já estavam contaminados pelo vírus. Sobre a gripe espanhola Gabrielle Werenicz Alves(2020) destaca que “espanhola foi a denominação que chegou ao Brasil. Mas na verdade, esta enfermidade acabou recebendo inúmeros nomes diferentes. Os países afetados atribuíam uns aos outros a culpabilidade pela doença.”


Outro exemplo nítido de ataque a grupos marginalizados por parte do governo brasileiro se dá quando o Presidente da República sancionou, com 16 vetos, a Lei 14.021/20, que trata de proteção de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais frente à pandemia de COVID-19. Destacam-se vetos em dispositivos que garantiriam acesso a água potável, cestas básicas, materiais de higiene, de limpeza, leitos hospitalares, UTIs e materiais informativos a indígenas, quilombolas e povos tradicionais. Ou seja, os vetos negam o mínimo necessário para a sobrevivência desses grupos em vulnerabilidade social. Bolsonaro excluiu os quilombolas e outros grupos igualmente vulneráveis  da implementação do Plano Emergencial para enfrentamento da COVID-19. 


Simone Rocha da Rocha Pires Monteiro sustenta que o conceito de vulnerabilidade social


pressupõe um conjunto de características, de recursos materiais ou simbólicos e de habilidades inerentes a indivíduos ou grupos, que podem ser insuficientes ou inadequados para o aproveitamento das oportunidades disponíveis na sociedade. Assim, essa relação irá determinar maior ou menor grau de deterioração de qualidade de vida dos sujeitos. Dessa forma, a diminuição dos níveis de vulnerabilidade social pode se dar a partir do fortalecimento dos sujeitos para que possam acessar bens e serviços, ampliando seu universo material e simbólico, além de suas condições de mobilidade social. Para isso, as políticas públicas constituem-se de fundamental importância. (MONTEIRO, 2011, p.35)

Dito isso, para falar de grupos marginalizados, recorreremos a Zaremska (apud LE GOFF; SCHIMITT, 2006), para atestar a noção de que “cada época produz seus marginais”. Neste material, uma das contribuições que destacamos é a análise de Zaremska sobre “as pesquisas dos historiadores da marginalidade” e da “exclusão”. A partir do trabalho da autora, pode-se observar a fenomenologia dos processos de exclusão social tanto por uma sociedade que exclui aqueles considerados inúteis ou insuficientes para ela, quanto pelo olhar do excluído, em que a autoexclusão pode também ser uma escolha deste indivíduo.


O que observamos ao olhar para o passado, são processos de exclusão e marginalização social considerados em relação ao established expresso nas palavras de Federico Neiburg (2000): “Um establishment é um grupo que se autopercebe e que é reconhecido como uma "boa sociedade", (...) os established fundam o seu poder no fato de serem um modelo moral para os outros”. Para reafirmar seu poder simbólico, este grupo estabelecido necessariamente inferioriza e forma, entre seus pares, barreiras que impeçam a ascensão social de outros grupos. Dentro de nosso contexto, podemos dizer que bem mais que não querer agir em favor destes que ficam de fora de seu grupo estabelecido, provoca-se tensionamentos políticos nas tentativas de repressão aos tidos como marginais.


Por mais despreparado que um governante como Bolsonaro seja, ele obtém de seus seguidores o poder necessário para manter sua posição, ainda que em contrapartida precise permitir atrocidades contra grupos marginalizados como nos exemplos já mencionados. E seguirá nesta posição de poder enquanto sustentar seu discurso. Seus eleitores ressurgem prontos a defendê-lo de qualquer acusação ainda que hajam provas evidentes contra ele. Pois fizeram dele seu próprio cavaleiro estandarte revestido de armadura brilhante, e com o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, o símbolo do neomedievalismo à brasileira.


E é nesse ponto que o fazer científico, o do pensamento crítico e da pesquisa científica se fazem necessários. Tanto as ciências médicas, quanto humanas e sociais devem agir para impedir os avanços contra a sociedade e seus indivíduos. Um diferencial a ser apontado entre a nossa sociedade, e as sociedades que passaram por pandemias anteriores, é a proporção que o acesso às informações nos traz. 


Em um mundo globalizado, e totalmente conectado por mídias digitais, temos plena condição de ainda, que em quarentena, nos comunicarmos com pensadores e acadêmicos de outras partes do globo terrestre. Os novos mecanismos de divulgação da ciência e tecnologia nos permitem compartilhar não só nossas angústias, como nosso conhecimento. É nesse momento que vemos quão urgente é a divulgação da ciência,  não só entre nossos pares, mas de forma acessível ao público em geral. Com pesquisas sérias, uma divulgação preocupada com os futuros usos e apropriações de seus resultados, para que não se fabriquem mais “Bolsonaros” e “Trumps”.



Referências bibliográficas: 


ALTCHUL, Nadia; DAVIS, Kathleen (eds.). Medievalism in the Postcolonial World: a idea of “Middle Ages” outside Europe. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2009, p.1. in: D’ALCÂNTARA, Thamires Chagas. Hagiografia como legitimação da santidade do apóstolo Valdemiro Santiago de Oliveira (1996-1998). 2020. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2020.

ALVES, Gabrielle Werenicz. Uma comparação entre a chamada Gripe Espanhola, dos fins da década de 1910, com a pandemia atual do novo coronavírus. Entrevista do hotsite Coronacrise Criado em13 de abril de 2020 Atualizado em17 de abril de 2020. https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/uma-comparacao-entre-a-pandemia-de-gripe-espanhola-e-a-pandemia-de-coronavirus/ acesso em 03/07/2020 às 20:19

D’ALCANTARA, Thamires Chagas. A auto-hagiografia elaborada por um Santo: a exemplaridade da fabricação de santidade na obra “o grande livramento” de Valdemiro Santiago. Monografia apresentada para obtenção do grau em licenciatura em História na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, 2017

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga - São Paulo:Contexto, 2013.

LANZIERI Júnior, Carlile. Ontem e hoje, o porta estandarte Reflexões sobre os usos do passado medieval, a estética bolsonarista e os discursos recentes da direita brasileira Roda da Fortuna. Revista Eletrônica sobre Antiguidade e Medievo, 2019, Volume 8, Número 2, pp. 189-209. disponível em https://www.revistarodadafortuna.com/2019-2  acesso em 21 de agosto de 2020 às 13:36

MONTEIRO, Simone Rocha da Rocha Piris. O Marco conceitual da Vulnerabilidade. In: Sociedade em Debate, Pelotas, 17(2): 29-40, jul.-dez./2011

NEIBURG, Federico. A sociologia das relações de poder de Norbert Elias,  Prefácio à edição brasileira (in) ELIAS, Norbert e SCOTSON, John L.: Os estabelecidos e os Outsiders. Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade, Rio de Janeiro, Zahar 2000

PACHA, Paulo. Why the brazilian far right loves the european middle ages. Pacific Standard. Disponível em : https://psmag.com/ideas/why-the-brazilian-far-right-is-obsessed-with-the-crusades. Acesso em 20 de Agosto de 2020

UTZ. Richard, comp. & ed. Medievalism in the Age of COVID-19: A Collegial Plenitude, Medievally Speaking, May 4, 2020: https://medievallyspeaking.blogspot.com/2020/05/medievalism-in-age-of-covid-19.html.

ZAREMSKA, H. Marginais. In: LE GOFF, J.; SCHMITT, J. C. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2006, v. 2.

Diário Oficial Da União Publicado em: 27/02/2020 | Edição: 39 | Seção: 1 | Página: 81

Órgão: Ministério da Educação/Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Gabinete Portaria Nº 21, De 26 De Fevereiro De 2020. Disponível em:

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-21-de-26-de-fevereiro-de-2020-245008697 acesso em 20 de agosto de 2020

Presidência da República: Brasil. Lei nº 14.021, de 7 de julho de 2020 disponível em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14021.htm acesso em 20 de agosto de 2020. Mensagem do veto mensagem nº 378, de 7 de julho de 2020 disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/msg/vep/vep-378.htm

Nota completa da embaixada da China no Brasil

Disponível em:  Embaixada da China, @embaixadaChina,19 de mar de 2020 às 9:27 PM disponível em https://twitter.com/EmbaixadaChina/status/1240797058149298189/photo/1  acesso em 9 de agosto de 2020 às 7:50 AM.

 Discurso de Jair Messias Bolsonaro, transmitido dia 24 de março de 2020. 

Transcrição publicada nna integra e disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52041251 consultado em 30 de julho de 2020 às 14:00 

Publicação de Eduardo Bolsonaro sobre a China

A publicação no twitter de Eduardo Bolsonaro foi deletada, porém o conteúdo consta reproduzido na íntegra e pode ser consultado na reportagem disponível em https://www.poder360.com.br/coronavirus/eduardo-bolsonaro-culpa-china-por-pandemia-e-embaixada-rebate/ acesso em 18 de julho de 2020 às 15:05 

Nota de Eduardo Bolsonaro

Nota completa disponível em: Eduardo Bolsonaro.@BolsonaroSP · 19 de mar de 2020 . 3:04 PM https://twitter.com/BolsonaroSP/status/1240700573143330817 acesso em 10 de ago de 2020 às 12:00

Comentários

  1. Olá Suelen, tudo bem?

    Parabéns pela reflexão! Uma crítica construtiva que faço ao texto é que o final "deixa de lado" o medievalismo (ao menos em parte). Mas acho que consigo oferecer uma sugestão que contribua para o problema, de modo que você possa aperfeiçoar a ideia no futuro.

    Em determinado momento, você menciona o fato de não ter existido uma idade média propriamente dita nas Américas; porém, a meu ver, o processo brasileiro mencionado na primeira metade do texto sugere explicitamente uma colonização do nosso passado nos modos europeus e medievalizantes - ao menos por um segmento da sociedade.

    Um movimento similar pode ser visto na França entre c.1870-1945 (com maior ênfase até o final da 1GM, de fato). Evocavam, por exemplo, o passado medieval glorioso francês e seu protagonismo nas Cruzadas e na reconquista da Terra Santa. Esta busca pelo passado medieval também foi bastante expressiva na Alemanha.

    Até que ponto não fomos influenciados por algo similar e esta busca pela "idade média brasileira" não afetou camadas conservadoras no país? Minhas pesquisas tem caminhado neste sentido de maneira muito satisfatória e acredito que seja algo digno de nota para pensar noutros trabalhos.

    Abraços,

    Renan Birro

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    1. Primeiramente, agradeço pela contribuição.
      Acho que entendi, você fala de fazer referência a como essa mentalidade medievalizada se constitui para América? No sentido de quais elementos teriam reforçado esses pensamentos e produções mesmo no campo historiográfico? A meu ver, tem dois pontos interessantes para essa discussão a visão dos colonizadores de uma terra atrasada, que ainda estaria em um tempo medieval e acredito que isso pode ser visto em produções escritas como nos casos estudados pela Nadia Altschul e por outro lado o desejo dos colonizados de se "ligar" a toda essa estrutura ocidental, indo até a idade média, para justificar essa relação. ainda que fazendo uma leitura romântica do que teria sido uma idade média de glórias, principalmente no campo das conquistas cristãs (uma das correntes historiográficas para as navegações). Estou iniciando os estudos na área de medievalismo, se você puder me compartilhar materiais acerca de sua pesquisa no tema, acredito que seria enriquecedor para ampliar minha visão.

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  2. Prezada autora, achei o trabalho bastante interessante! Gostaria que você comentasse sobre as representações do que é ligado ao medievalismo e como elas são retomadas no presente, a partir de mobilizações distintas. Obrigado!

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    1. olá,
      Ao mesmo tempo em que a extrema direita se diz herdeira deste passado medieval, tenta reconstruir aquilo que considera de mais glorioso desse passado, em nosso tempo presente ( uma presentificação de um medievo, que por sua vez é uma construção). E neste caso, aponto que para a extrema direita temos um medievo hegemônico com apenas brancos e cristãos, e os demais que em nosso tempo presente são ignorados, os marginalizados representam tanto hoje quanto no passado os inimigos nessa lógica de discurso. na recosntrução de um medievo onde para eles os inimigos eram Judeus, povos árabe muçulmanos, ou africanos, hoje temos acrescentados a esses grupos os indigenas, quilombolas, imigrantes e os que professam religiosidades diferentes do cristianismo.
      Muito obrigado por seu comentário. estou a disposição para mais esclarecimentos.

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  3. Achei sua reflexão extremamente coerente, a extrema direita bolsonarista tem um certo fascínio pelo seu passado medieval imaginário, isso de torna evidente devido o fato de grande parte da base apoiadora do Presidente da República ser composta por monarquistas, outro fato que evidencia tudo isso que você falou é a maneira como qual muitos influencers ultra conservadores tratam a sociedade contemporânea, alegando que estamos passando por uma "guerra santa", dando espaço para a massa associar essa "guerra" com as cruzadas e com a santa inquisição, de modo que se tornou comum ver apoiadores do Bolsonaro apropriarem de vestimentas com cavaleiros templários e usarem a frase "Deus Vult".
    Passamos por tempos obscuros....
    Aurélio Henrique Barros Arruda Rocha - UFG
    aureliohenrique7@gmail.com

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    1. Obrigado pela contribuição, de fato o pensamento vai por essa linha de raciocínio.

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  4. Prezada Suelen,
    Gostaria de parabenizá-la por seu texto que traz uma reflexão muito boa sobre os usos da idade média pelas extremas direitas, nesse sentido seu texto aponta para fontes medievalizantes usadas pelos mesmos para sugerir uma possível relação com a Idade média. Por isso, lhe questiono é possível identificar uma intencionalidade direta desses grupos de lembrarem desse "passado medieval" para justificarem isso ?
    Outra dúvida que surgiu ao ler seu texto é como os grupos marginalizados são vistos pelos grupos marginalizados e como esses grupos percebem-se nesse contexto?
    Desde de já agradeço a atenção e a possível resposta!
    André Luis Araujo Pereira Junior -UFRRJ

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    1. Agredeço pela participação no debate.
      Quanto a primeira parte da sua pergunta, é possível sim. Independente de os conteúdos serem produzidos dentro desses grupos reconhecidos como extrema direita, eles se apropriam de materiais que possam reforçar essa ideia de um passado medieval. Já com relação a segunda parte, sobre os grupos marginalizados, venho realizando um levantamento sobre associações e outros tipos de organizações que tem se pronunciado em meio a essa pandemia justamente para denunciar essas ações do governo, buscando apoio jurídico, e organizando dentro de suas comunidades ações de solidariedade. Os grupos marginalizados se auto percebem em sua condição de prejudicados por essa estrutura, ainda que em parte não tenham a noção distinta sobre especificamente o neomedievalismo político, a vivencia dos ataques a suas comunidades trás o reconhecimento de sua situação. Pretendo desenvolver mais esse ponto, entrar em contato com representações de comunidades tradicionais (quilombolas, indigenas, movimentos das favelas) para ter uma material mais sólido com relação a essa auto percepção para trabalho futuro.

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    2. Obrigado, acredito que dará um desenvolvimento muito interessante pensando, principalmente para analisar auto-pertencimento e como esses indivíduos interagem com essas discussões.
      Obrigado pela resposta.

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  5. Parabens Suelen, por abordar um tema tão contemporâneo.
    Você aborda o as ações mediavalistas de nossos conterraneos, baseado no fato de sermos colonizados por Portugal, um país europeu familiarizado com o mediavalismo. Não devemos também esquecer que a nossa forma de escrever a história, está intimamente. ligada ao ocidente já que os franceses influenciaram enormemente a nossa escrita da história. Quanto a forma medieval de políticas atual, onde a moralidade cristã e colocada acima de tudo, é tudo balela neopentecostal, que só visa riqueza e poder. Visto os últimos acontecimentos, pastora aliada de Bolsonaro acusada de assassinar o próprio marido, pastor que batizou a presidente, preso preso acusado de fraude, até padre conservador católicos está sendo acusado de fraude dentre outros. Pergunto onde está o conservadorismo, o respeito a família tradicional? Ou isso tudo só visa a apropriação do poder mais uma vez na história em nome da fé?
    Matias Jorge de Sousa Pereira

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    1. Agradeço a contribuição Matias, concordo, a construção de uma disciplina medieval para o Brasil a partir das influencias da escola francesa traz uma série de problemas epistemicos nessa construção. Desde uma concepção inicialmente apolítica deste campo, quanto de uma sacralização das tgematicas pertinentes. E sim, o discurso da moralidade cristã vem sendo utilizado há tempos para reforçar estruturas de poder, principalmente patriarcais.

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  6. Olá, parabéns pelo seu texto! Gostaria de saber se vc aplica uma metodologia especifica para trabalhar um contexto tao atual por meio de recursos modernos.

    Obrigada!

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    1. Como trato de um objeto do tempo presente, o neomedievalismo apresenta suas próprias fontes, produzidas por meio de discursos que podem ser localizados em ambiente eletrônico, como reproduzi alguns no texto. O maior cuidado está em localizar fontes de sites confiáveis, ou no caso de perfis pessoais buscar os perfis oficiais dessas personalidades. Em um mundo de fake news a quantidade de perfis falsos é enorme também. A grande dificuldade é que em raríssimos casos alguém se debruça a traçar essas normas/padrões metodológicos, então, escolhi me ater principalmente ao que os autores que cito como referencial já vem desenvolvendo. Desde a forma de fazer as referências a coisas pubicadas no twitter ao uso de “memes” no corpo do texto.

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  7. Parabéns Suelen pelo reflexão feita!
    Surgiu em mim apenas um adendo sobre a sua fala de que o lema do nosso atual presidente "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" é o símbolo do neomedievalismo à brasileira, na minha visão este slogan carrega uma densa carga de um nacionalismo exacerbado, porém não podemos falar de nação na Idade Média, visto que o conceito surge depois, portanto me parece mais uma extrema valorização da nação pelos interesses e valores da mesma. Gostaria então que expusesse um pouco sobre como você articulou essa ideia do neomedievalismo em torno do slogan de Jair Bolsonaro. Obrigada!

    Maria Gabriela Moreira

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    1. A base pra se analisar o neomedievaslismo político é justamente o nacionalismo exarcerbado. as crenças de origens medievais dessa nação que se proclama "acima de tudo" e a declaração de um Deus acima de todos (tanto na area das religiosidades quanto um ataque a laicidade do Estado). Não se trata de avaliar um conceito do presente no passado, mas de se observar como no próprio presente ele é dotado de sentidos multiplos, e de como é contruída essa ideia de identidade da nação dentro do eixo analisado.

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    2. Agradeço pela contribuição, pretendo incorporar esse olhar ao texto futuramente

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  8. Prezada autora. Quero lhe parabenizar pela produção. Creio que é um tema oportuno diante da conjuntura atual do nosso país.
    De que forma as universidades e escolas podem desconstruir essas apropriações equivocadas do medievo pela extrema-direita e alcançar a massa populacional, sendo que ainda determinadas escolas retratam uma visão do medievo de forma bem tradicional e rasa? Qual seria sua opinião acerca desse ponto?

    Desde já agradeço.
    Tatiane Leal Barbosa

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    1. Agradeço muito por sua pergunta, penso que sem esse link com a educação básica, nossos estudos, e debates acabam por ser apenas alimento do ego, dividido entre os pares sem reverberar de fato na sociedade.

      Uma das formas é primeiramente ampliar esse debate dentro do próprio espaço acadêmico. São poucos os grupos de pesquisa dentro da temática do medievalismo ainda, e em sala de aula nas universidades, o debate se faz ainda mais escasso. Assim, acabamos com um numero muito reduzido de individuos com acesso a esse conteúdo e que possam se quer pensar em propostas para uma educação básica que não reforce esses esterótipos/ reconstruções sobre um medievo encantado/colonizado...
      Já em sala de aula, a urgência é apresentar conteúdos que ampliem a visão sobre o medievo, fugir ao tradicional monólogo de uma idade média de trevas onde a figura branca aponta para a salvação. Desmitificar a presença dos povos árabe muçulmanos e outros e até mesmo demonstrar de onde vem os estigmas pelos quais esses povos passam até dias atuais. Demarcar as presenças desses grupos que até então são postos apenas como um inimigo a ser combatido demonstrando suas culturas, intelectualidades, e principalmente reforçando sempre que o mundo fora do que hoje se conhece como europa não nasce intelectualmente apenas no séc. XVI a paritr do contato com essas sociedades colonizadoras.

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  9. Caríssima,
    Tudo bem? Parabéns pelo trabalho. Minha questão é no sentido de refletir acerca do porquê deste uso frequente da Idade Média pela extrema-direita. Na sua visão, o contexto, presente há anos no Brasil, de reavivamento dos estudos medievais na intenção de retirar a chaga da Idade das Trevas, acabou abrindo espaço a estes usos políticos vazios? Ademais, cogita outros fatores para o uso específico dos símbolos medievais, templários etc. e não de elementos definitivamente americanos-coloniais? Abraço,

    Marcos Jorge Pinheiro

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    1. Olá Marcos, muito obrigado por participar deste debate.
      Quanto a primeira parte de sua pergunta, creio que esses usos políticos do passado sempre estiveram presentes. E não seria diferente com o medievo. Se num passado recente a disciplina era vista como um ponto fora da curva dentro do curso (uma visão apolítica da disciplina), hoje podemos observar que este discurso não era verdadeiro, antes uma construção, advinda principalmente da escola francesa da qual nós utilizamos como base para a disciplina aqui no Brasil. Quanto a segunda parte da pergunta, me questiono quais seriam esses simbolos americanos-coloniais? Não viriam a ser de mesmo modo uma construção de identidade?

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  10. Bom dia, Achei muito interessante seu trabalho e importante, mediante a uma retomada tão intensa da ideia de ultra nacionalismo como forma de governança política. Meu questionamento fica a cargo do porquê usa-se tanto do passado medieval, que é tão distantes do Brasil, para validar discursos nacionalistas, mediante ao fato de que no segundo império ,com Dom Pedro II, criou-se o IHGB no intuito de criar uma história "real" brasileira inspirada nos valores naturais e puros dos índios , o indianismo. Por mais que esse movimento fosse mesclado com alguns valores cavaleirescos, ainda assim , se tornaria mais fácil e natural essa identidade (inventada) sobreviver e ser usada como justificativa ao discurso ultra nacionalista Brasileiro. Por que o primeiro e não o segundo sobreviveu nos dias de hoje ? Obrigado, e novamente , ótimo trabalho o seu .

    Leonardo Felipe França Dutra

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    1. A questão é exatamente o fato de o IHGB ter essa teoria sobre três raças (brancos, indios e negros) que deveriam juntos contruir essa nação. O que vemos é a tentativa de afastar essa ideia a todo custo. Ainda que seja necessário buscar num passado tão distante, desde que se consiga (ainda que fantasiosamente) reforçar essa ideia de uma nação fundada sobre princípios brancos e cristãos. E cuja “decadencia” é culpa justamente desses povos que seguem marginais.

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    2. agradeço muito pela contribuição, estou a disposição caso tenha mais apontamentos.

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  11. Boa tarde Suelen! Me chamo Thiago, sou mestrando em história pela UFPR, professor e podcaster. Antes de mais nada, gostaria de parabenizá-la pela construção do texto e pelas reflexões quanto a temática central.
    Além do uso de um imaginário medieval pela extrema-direita, lendo seu texto também fiquei pensando, pelo menos em minha experiência, no quanto identificar-se como medievalista faz com que a maioria das pessoas automaticamente te associe a uma perspectiva conservadora. É notório que sobrevive, tanto no senso comum quanto até mesmo entre historiadores, uma ideia de que os estudos do medievo são um cantão para alunos e professores direitistas nas universidades (e, na minha experiência de UFPR, às vezes eles infelizmente de fato o são). Acredito que, como medievalista, pensar e analisar o presente seja uma das formas de quebrar esta associação entre estudos do medievo e um posicionamento político retrógrado. Portanto, parabenizo-a por tal esforço neste texto e pergunto: o que você acredita que possamos fazer para combater este senso comum e, além disso, a utilização de elementos d come um imaginário medieval como proposta de uma sociedade fascista e teocrática, para o presente, por parte da extrema-direita?

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    1. Olá Thiago, boa noite, agradeço pela sua colocação e por trazer essa questão sobre os pesquisadores e professores. Como venho mencionando durante o evento em outras respostas, por muito tempo a área do medievo foi vista como apolítica. E creio eu que por esse motivo possa ter se tornado de certo modo um refugio para aqueles dentro dos estudos de história que mais voltados a uma linha direitista. Quanto a sua questão, penso que a divulgação da ciência continua sendo a melhor alternativa, ainda que estejamos em momento de perda de investimentos (penso que exatamento por isso). Creio que já deve estar nesse caminho, como mencionou o podcast! as mídias sociais tem desempenhado um papel fundamental pra ajudar a levar a ciência para outras esferas, além dos muros da academia.

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  12. Olá, Suelen! Parabéns pelo ótimo trabalho e discussão!
    Sabendo que Bolsonaro se alavancou diante dessa ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo dos últimos anos, tenho um questionamento. Haveria na sociedade brasileira atual outras evidências desse neomedievalismo?
    Fernanda Vasconcelos de Andrade

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    1. Oi Fernanda, grata por sua pergunta, temos um grande nicho para estudos do medievalismo, e das expressões neomedievalistas. O Linhas por exemplo tem pesquisadores que se dedicam a estudar a relação entre medievalismo e religião, onde alguns estudam o neomedievalismo presente no discurso do protestantismo, e tem ainda estudos sobre órdens católicas como os arautos do evangelho. Creio que possam haver outros ramos de pesquisa de medievalismo, porém esses são os que tenho mais proximidade por conta do Linhas.

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  13. Olá Suelen,

    Quero parabenizá-la pelo excelente texto. O título é bastante instigante e atual no qual me estimulou ler toda narrativa. Bom, você equiparou o período medieval com acessão de atuais governos de extrema-direita conservadora pelas suas práticas. Assim, quero que comente como esses governos de extrema-direita se hegemonizaram com essas práticas, e como conquistaram a grande massa da população?

    Atenciosamente,

    Lívia Maria da Silva Souza


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    1. Oi lívia, boa noite.
      acho importante ressaltar que não se trata de equiparar um "período medieval real" e sim um imaginado e recriado pela extrema direita. Um medievo onde segundo eles havia uma hegemonia de raça e religiosa, algo que reforça suas ideias de superioridade. Sobre a questão de como os governos conquistam boa parte das populações, creio que se deve, no caso do Brasil, a distância que há entre o discurso de humildade e principalmente a bandeira do conservadorismo cristão, que nas práticas de políticas de governo e bastidores não se pratica.

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  14. Olá! Boa noite!

    Primeiro gostaria de te parabenizar pelo texto. O assunto é atual e importantíssimo. Gostei muito da forma como finalizou seu trabalho. É isso. Precisamos, de fato, confiar nas ciências para "sairmos do buraco". Mas uma observação e questionamento que me faço é se é justo falarmos em "pleno século XXI" (para cobrarmos progresso) e "voltamos pra Idade Média" (para falarmos de retrocessos). Se essas mentalidades retrógradas, negacionistas e que desprezam a ciência e a igualdade se produzem e reproduzem "em pleno século XXI", não seriam próprias, também, do nosso tempo? Isso é um questionamento pessoal meu.

    Minha dúvida sobre o artigo: é seguro falar que não houve de fato Idade Média nas Américas?

    Gabriela Gomes Cerqueira


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    1. Para afirmar uma "Idade Média nas Américas, teria que me utilizar do conceito de longa idade média do Le Goff, entretanto estaria comentendo uma contradição teória com o medievalismo, que se firma justamente na negação de uma longa idade média e na afirmação de medievalismos, esse olhar medievalizante sobre um período que aparenta "retrocessos", "atrasos" tal qual o olhar do colonizador ao chegar nas Américas. A visão desses grupos extremistas sobre a idade média não é a de um atraso, para eles o atraso é a modernidade, a perda da moralidade e fé cristã a partir do surgimento das ciências. retornar para a glória da idade média, seria reestabelecer essa ordem.
      agradelo a contribuição.

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. Agradeço a todos pelas contribuições. Caso alguém queira continuar o debate estejam a vontade para entrar em contato. Meu e-mail encontra-se no texto. Abraços a todos.

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  17. Olá Suelen.
    Muito pertinente sua produção. Parabéns.
    Gostaria que comentasse um pouco sobre as possibilidades do neomedievalismo enfraquecer e o Brasil poder buscar novas possibilidades de avanços na valorização da diversidade e inclusão social.

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    1. Olá Julio, agradeço pela sua contribuição.
      quanto a questão colocada, a valorização da diversidade, bem como a inclusão social só será viável quando tivermos um governo que respeite esses princípios. Enquanto o neoliberalismo e o oportunismo cristão estiverem no controle das ações desse governo, dificilmente teremos avanços significativos nessas pautas políticas. A extrema direita segue em ascenção.

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