Ecos da Idade Média em Là-bas (1891), de Joris-Karl Huysmans - Leonardo Rocha Amorim

Leonardo Rocha Amorim Mestrando do Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” (UNESP/IBILCE). Email: leonardoamorim25@hotmail.com

Là-bas é um romance do escritor francês Joris-Karl Huysmans, publicado em 1891, primeiramente, em formato de folhetim, e, depois, em formato de livro, traduzido, recentemente, no Brasil, pela editora Carambaia, com o título Nas Profundezas (2018). É considerado um dos romances mais polêmicos deste escritor o qual, segundo Luiz Antônio do Amaral (2009), é visto como uma das figuras mais controversas do século XIX, expressando, em suas obras, o verdadeiro sentimento do decadentismo francês. A obra tem como protagonista o escritor Durtal, alter ego de Huysmans, que, decidido a escrever a biografia do marechal Gilles de Rais (1404-1440), embarca no universo do misticismo pagão medieval, do cristianismo tradicional da Idade Média, e, em especial, do satanismo, que tem suas raízes no medievo. Além do mais, Durtal busca compreender como se estabeleceu, em pleno século XIX, o culto diabólico e como se deu sua releitura dos ritos satânicos medievais. Encontra, então, na Missa Negra, a interpretação do diabolismo da Idade Média, uma vez que o rito mescla elementos dos rituais pagãos europeus e dos antigos sabbaths medievais. Para chegar a esta conclusão, Durtal percorre as mais diversas teorias acerca do sobrenatural, atentando-se para importantes eventos sobre este tema, como episódios retratados e figurados em famosos jornais franceses. Ao final, Durtal consegue participar de uma das Missas Negras realizadas nos subúrbios de Paris. A experiência do protagonista permite a conclusão de sua obra biográfica, com uma breve reflexão sobre os movimentos diabólicos e ocultistas do final do século XIX. 

Ao realizarmos nossa leitura crítica sobre o romance, encontramos a presença de duas Idades Médias completamente distintas, mas coexistentes, as quais nomeamos como Idade Média Branca e Idade Média Negra. Por um lado, a primeira é característica do senso comum histórico, isto é, um período dominado pela Igreja e pelos valores do Cristianismo. Por outro lado, encontra-se a segunda, conhecida por ainda manter suas raízes culturais no paganismo europeu, principalmente, nas pequenas comunidades. É no medievo que vemos as primeiras representações do Diabo e do macabro na pintura e na literatura popular não teológica (HUYSMANS, 2018, p. 98). Segundo Jules Michelet (2003), é exatamente na cultura popular que se podem observar as referências ao passado das religiões pagãs europeias. Inclusive, ainda segundo o autor, o Cristianismo apropriou-se, muitas vezes, desta cultura popular e criou caminhos para a interpretação do mal (NOGUEIRA, 2002, p. 72). Ainda, segundo Nogueira, as figurações do Diabo, por exemplo, recebem inúmeras referências dos deuses profanos antigos e compõem, dentro do imaginário popular, a dimensão caótica do mal. Jules Michelet observa que é na Idade Média, então, que se encontra uma grande metamorfose entre o Cristianismo e a cultura das massas, o que vai ao encontro da representação do medievo no romance de Huysmans: “No século XV, as tendências extremas foram representadas por Joana d’Arc e pelo marechal Des Rais. Ora, não há razão para que Gilles seja mais insano do que a Donzela, cujos os admiráveis excessos não tem relação alguma com vesânias ou desvarios.” (HUYSMANS, 2018, p. 140).


Colocado isto, nota-se que Huysmans, em seu romance, separa a Idade Média Branca e a Negra entre dois representantes que se tornam fundamentais para o desenvolvimento da trama: Joana d’Arc e Gilles de Rais respectivamente. A primeira insere-se no universo tradicional do medievo ao viver uma vida exemplar de luta contra o invasor inglês e crença nas “vozes” de São Miguel Arcanjo, Santa Margarida e Santa Catarina. Joana, em seu martírio final, na cidade de Rouen, foi condenada à morte, injustamente, em um processo amplamente político, comandado pela monarquia inglesa, o que a transformou num perfeito exemplo de boa cristã, e até se torna santa anos mais tarde (HUYSMANS, 2018, p. 103). Por outro lado, a figura de Gilles de Rais surge como uma contraposição à de Joana. O marechal De Rais isola-se em sua fortaleza, em Tiffauges, realizando banquetes, bancando artistas e intelectuais, gastando seu dinheiro em orgias, “uma espécie de Esseintes do século XV” (HUYSMANS, 2018, p. 62), preferência que o escritor faz a um dos seus mais célebres protagonistas, do romance À Rebours (1884). Em seu retiro, no castelo de Tiffauges, segundo Huysmans, em Là-bas, Gilles cometeu os mais sangrentos assassinatos e sacrifícios em rituais diabólicos e de invocação do Diabo, envolvendo-se com uma espécie de misticismo popular originário dos antigos tratados pagãos.


A figura de Gilles de Rais, sobre a qual Durtal decide escrever a biografia, representa o lado negro da Idade Média. Na história, Gilles é reconhecido por ter lutado ao lado de Joana d’Arc durante a última etapa da Guerra dos Cem Anos. Após a morte de Joana, Gilles desaparece brevemente das narrativas históricas e retorna anos mais tarde em seu processo de condenação. Gilles é acusado e culpado por inúmeros assassinatos. Segundo Inman-Gigandet (1965), Gilles confessou a morte de 120 crianças, todavia, é suspeito pelo fim trágico de pelo menos oitocentas. Ao final do processo, Gilles é acusado de realizar assassinatos e heresia, uma vez que as mortes configuravam espécies de rituais de evocação do demônio, em uma busca satânica de Gilles em torno do sobrenatural. Segundo Huysmans, após a morte de Joana, Gilles envolve-se com a alquimia, em uma tentativa desesperada de transformar metais em ouro, uma vez que o marechal entrava em um sério processo de falência. O envolvimento com a alquimia, ainda segundo Huysmans, faz com que Gilles se encontre com místicos e ocultistas do seu tempo, despertando seu interesse pelo diabolismo medieval. Entre eles, ficou famosa a relação entre o marechal e o satanista François Perlati. Para que os rituais funcionem, é necessário que Gilles desça ao mais profundo antro da vida, aos crimes, à morte e à sanguinolência, “A lei do Satanismo que determina ao eleito do mal descer a espiral do pecado até seu último degrau” (HUYSMANS, 2018, p. 202). Os crimes eram brutais, crianças eram degoladas, o sangue era conservado para com ele escrever os tratados de evocação e outras brutalidades extremamente assombrosas eram cometidas, conforme narra o próprio Huysmans: 


Ao anoitecer, quando os sentidos estão aguçados, como se afetados pelo sumo intenso das carnes gordurosas, inflamadas pelas bebidas abrasadoras impregnadas de especiarias, Gilles e seus amigos vão para um cômodo afastado do castelo. É para lá que são levados os garotinhos que ficam presos nos porões. Eles são despidos e amordaçados; o marechal os apalpa e os violenta, depois os corta a golpes de adaga, se aprazerado ao desmembrá-los pedaço por pedaços. (HUYSMANS, 2018, p. 206).


Dessa forma, após esta apresentação, percebe-se que a Idade Média é um importante tema do romance, sendo diversas vezes evocada, seja para tratar de seus aspectos tradicionais ou para refletir sobre o satanismo emergente deste período. A narrativa tem como principal foco os diálogos entre as personagens, atentando para três principais: Durtal, Des Hermies e Carhaix. O primeiro já apresentando, o segundo um médico descrente e o terceiro um católico fervoroso, que exerce funções de sineiro e vive na catedral de Saint-Sulpice em Paris. Grande parte dos diálogos em que a Idade Média se faz presente ocorrem na casa de Carhaix durante jantares realizados por ele e sua esposa, em um ambiente “próximo ao mundo medieval e que faz com que Durtal regresse no tempo, para a idade média, nos grandes banquetes palacianos” (HUYSMANS, 2018, p. 108).


Carhaix insere-se como uma importante personagem porque sua visão católica e radical é uma espécie de contraposição à biografia de Gilles de Rais que Durtal escreve. Frequentemente, Carhaix sente-se incomodado com os questionamentos e a busca de Durtal, tentando, várias vezes, fazer com que o amigo perceba que sua busca acaba o inserindo em um ambiente extremamente complexo e profano. Inclusive, Carhaix não fica sabendo que Durtal havia participado de uma Missa Negra. Avisado por Des Hermies, o protagonista evita o assunto com o sineiro, com a finalidade de impedir qualquer atrito no círculo de amizade. 


Em certa ocasião, o astrólogo Gevigney é convidado para um dos jantares na casa de Carhaix. Neste encontro, os amigos debatem sobre o satanismo medieval, sobre os sucubus e incubus, possessões, rituais, a dinâmica da Missa Negra, etc. Gevigney cita a evolução do ritual satânico ao longo dos séculos, atribuindo as referências aos ritos pagãos como modeladores da Missa Negra moderna. Então, em seguida, o astrólogo decide explicar como o diabolismo age na França, citando exemplos de seus encontros e dissertando sobre como a Missa Negra organiza-se em torno da burguesia parisiense, comandada por clérigos e cónegos expulsos do Vaticano. É nesse momento que o interesse de Durtal pelas sociedades diabólicas ocultas se desperta. Ocorrem as primeiras referências às releituras do diabolismo em pleno século XIX, fazendo com que Durtal sinta a necessidade de participar de um destes encontros para, enfim, conseguir terminar sua obra sobre Gilles de Rais.


O assunto tratado entre os amigos e as explicações de Gevigney incomoda muito a Carhaix. O sineiro se sente estranho ao assunto que descreve ser palavras profanas. Afinal, Carhaix segue uma vida muito cristã, próxima ao tradicionalismo católico. Inclusive, em seu ofício, as orientações tradicionais remontam à Idade Média. A biblioteca do sineiro, por exemplo, é composta por grandes tratados sobre o ofício dos sinos, e a importância deles nas grandes catedrais europeias. Durtal se mostra muito interessado pelo ofício do amigo. Em todos os jantares, os questionamentos de Durtal a Carhaix são sobre seu trabalho e sobre a importância dos sinos em pleno século XIX. Carhaix, de forma bem nostálgica, alimenta a curiosidade de Durtal, alegando que, nos dias de hoje, os sinos não têm tanta importância para a comunidade, mas, no passado medieval, eram instrumentos litúrgicos importantes (HUYSMANS, 2018, p. 163). Desta forma, se o satanismo medieval de Gilles de Rais é o fio condutor para a Idade Média Negra, a curiosidade de Huysmans em torno dos sinos e sua importância litúrgica se tornam o Norte para o desenvolvimento da Idade Média Branca no romance. 


Os sinos, de acordo com Arnold e Goodson (2012), eram importantes instrumentos litúrgicos, porque, além de regular a vida dos populares na Idade Média, serviam, também, para finalidades teológicas. Os autores apontam, por exemplo, para as diferentes técnicas e sons que os sinos emitem de acordo com determinadas datas comemorativas ou não, mas que exerciam importância na “luta do cristianismo contra o mal, em favor de uma sociedade católica mais organizada” (ARNOLD E GOODSON, 2012, p.14). Os sinos estão presentes no cotidiano da Igreja desde seus tempos primitivos. Os autores mostram, por exemplo, que muitos missionários, ainda durante o Império Romano, andavam munidos deste importante item. O sino era uma espécie de extensão do próprio rito litúrgico e se colocavam como um importante instrumento no Cristianismo primitivo e medieval. Essa ideia é reforçada no romance de Huysmans, no momento em que Durtal tem seu primeiro contato com a biblioteca do sineiro e questiona Carhaix sobre a importância dos sinos, bem como os temas que os livros abordam. O sineiro, então, satisfeito com os questionamentos de Durtal, responde ao amigo: 


...Agora há pouco, o senhor me perguntava se esses livros tratam dos sinos do ponto de vista litúrgico; sim, a maioria explica em detalhes o sentido de cada uma das partes que os compõem; mas, no geral, as interpretações são simples e sem variações.

E quais são elas?


Oh! Se isso lhe interessa, vou resumir em poucas palavras. Segundo o Rationale de Guillaume Durand, a rigidez do metal representa a força do pregador; a percussão do badalo contra as bordas exprime a ideia de que esse pregador deve flagelar-se, para corrigir os próprios vícios, antes de repreender os pecados alheios. A trave de madeira na qual o sino é suspenso significa, pela sua forma mesmo, a cruz de Cristo e a corda, que outrora servia para puxar essa trave, alegoriza a ciência das Escrituras, que decorre do mistério da própria Cruz. (HUYSMANS, 2018, p. 164).


Após toda essa discussão sobre a presença de duas distintas Idades Médias no trabalho de Joris-Karl Huysmans, pretende-se, então, compreender a obra como parte do discurso histórico, não reduzindo sua importância literária, mas, segundo Auerbach (1950), realizando um exercício comparativo entre obra, sociedade e história. Assim, compreendemos que a presença da Idade Média como um tema importante na obra de Huysmans é, em certo ponto, influência do período e da sociedade em que o escritor assume seu lugar de fala. Ora, como discutimos até aqui, o período medieval elaborado pelo autor no romance é, em sua excelência, um debate em torno da questão metafísica (Cristianismo, satanismo e paganismo). Huysmans encontra-se inserido em meio a um conturbado período, conhecido como fin-de-siècle, que se inicia com a derrota da França para a Prússia na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) e, segundo Matei Calinescu (1987), conclui-se próximo ao início da Primeira Guerra Mundial. É um momento histórico singular para as artes, atribuído por Calinescu como a ascensão definitiva da modernidade. 


Para Calinescu, o debate científico alia-se ao mundo metafísico. Experiências sobrenaturais tentam ser explicadas por meio dos dispositivos da ciência. O discurso científico, todavia, sofre certa recriminação, principalmente por grupos intelectuais ligados ao simbolismo, entre eles, Huysmans. O sobrenatural ganha importância nos meios letrados. Por exemplo, temas bíblicos passam a ser retratados nas mais variadas formas de arte; a pintura redescobre a figura bíblica de Salomé, com quadros como A Aparição (1875), de Gustave Moreau.


A literatura sofre importante influência deste período. Vale lembrar que a segunda metade do século XIX é dominada pela escola Naturalista, da qual o próprio Huysmans participou em seus primeiros romances (Marthe histoire d’une jeune fille e Les Soeurs Vatard). Para Gérard Peylet (2000), Huysmans rompe com o Naturalismo quando publica À Rebours. O rompimento é fatal. O primeiro capítulo de Là-bas funciona como uma espécie de epílogo, que ataca o modelo naturalista, alegando que o discurso científico não é suficiente para falar sobre as coisas da alma (HUYSMANS, 2018, p. 09). O autor propõe o que ele chama de supranaturalismo, ou seja, utilizar os métodos naturalistas para discutir questões que estão além do social e da ciência, mas fazem parte do universo do sobrenatural. Desta forma, ao retornar à Idade Média, realizando um trabalho que, segundo Elizabeth Emery (2012), é de um medievalista, Huysmans, não só em Là-bas, mas em outros romances também, ainda de acordo com a autora, propõe a discussão em torno do universo místico medieval e de como ele é relido no século XIX.


A literatura do final do século XIX apresentou influência do grotesco e do gótico. Vale lembrar, então, pensando nessa influência, que a literatura gótica do século XVIII tinha como proposta, muitas vezes, apresentar o ambiente medieval e as estruturas da arquitetura gótica. Mario Praz (1951), inclusive, define que a literatura do fin-de-siècle é uma espécie de Romantismo tardio, o qual o autor nomeia como Romantismo sombrio, porque mantém temas grotescos, violentos, mórbidos, seguindo os passos dos antigos ultra românticos, adaptados ao novo cenário do pós-Naturalismo. Assim, faz sentido, para nós, que Huysmans busque, no passado medieval, o percurso do Cristianismo e do satanismo até o seu tempo, detalhando, no romance, a forma com que foram relidos ao longo do século XIX, configurando um ambiente soturno. Agora, é o que se coloca como pergunta para nós. Partiremos deste ponto nos próximos estágios da pesquisa, tentando compreender melhor o período e a produção literária do fin-de-siècle francês.


Referências Bibliográficas:

AMARAL, Luiz Antonio. J.-K. Huysmans: expressão do decadentismo francês. 1. ed.

Araraquara: Cultura Acadêmica, 2009. 249 p.

ARNOLD, John H; GOODSON, Caroline. Resounding Community: “The History and

Meaning of Medieval Church Bells”. Viator, Los Angeles, 2012. Disponível em:

https://www.academia.edu/9304431/Resounding_Community_The_History_and_Me

aning_of_Medieval_Church_Bells. Acesso em: 3 jul. 2020.

AUERBACH, Erich. Introdução aos Estudos Literários. Tradução: José Paulo Paes. 1 ed. São Paulo: Cultrix, 1972. 278 p.

BOUREAU, Alain. Satã Herético: O nascimento da demonologia na Europa medieval (1260-1350). Tradução: Igor Salomão Teixeira. 1. ed. Campinas: Unicamp, 2016. 252 p.

CALINESCU, Matei. Five Faces of Modernity: Modernism, Avant-garde, Decadence, Kitsch and Post-Modernism. 1. ed. Durham: Duke University Press, 1987. 420 p.

EMERY, Elizabeth. “J.-K. Huysmans, Medievalist”. Modern Language Studies, New

York, v. 30, n. 2, p. 119-131, Autumn 2000. 30, Modern Language Studies, 2000.

HUYSMANS, Joris-Karl. Nas Profundezas. Tradução: Mauro Pinheiro. 1. ed. São Paulo:

Carambaia, 2018. 394 p.

IMANN-GIGANDET, Georges. “DE GILLES DE RAIS A BARBE-BLEUE”. Revue Des

Deux Mondes (1829-1971), 1964, pp. 265–275. JSTOR, www.jstor.org/stable/44589733. Acesso em: 3 jul. 2020.

MICHELET, Jules. A Feiticeira. Tradução: Ana Moura. 1. ed. São Paulo: Aquariana,

2003. 142 p.

NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. 126 p.

PRAZ, Mario. The Romantic Agony. 2. ed. Londres: Oxford University Press, 1951. 536 p.

ZIEGLER, Robert. Satanism, Magic and Mysticism in Fin-de-siècle France. 1. ed. New York: Palgrave Macmillan, 2012. 236 p.



Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Victor Célio Vinícius Cunha Hermógenes31 de agosto de 2020 às 09:46

    Parabéns pelo excelente texto, gostaria de saber como o autor da obra analisada por você usa as figuras cristãs e se estás na obra possuem um tom mais positivado que outras.
    Obrigado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vitor Célio, tudo bem? Agradeço por ter prestigiado meu texto. Pois bem, indo direto à pergunta, mas começando pela segunda parte. Não. O Huysmans em momento algum utiliza as figuras cristãs como algo mais positivo que as diabólicas ou pagãs. Para ele, tudo encontra-se dentro desse grande "bolo" que é a Idade Média. Claro. O personagem do sineiro idolatra o Cristianismo medieval, mas isso é parte da construção desta personagem e não a opinião do autor. As figuras cristãs aparecem de diferentes formas: livros de teólogos, a própria Bíblia (citações), o ritual litúrgico da Missa e os símbolos litúrgicos, como os Sinos das Igrejas, que ocupam uma grande parte da discussão da Idade Média branca. (Leonardo Rocha Amorim).

      Excluir
  3. Parabéns Leonardo! Gostei muito do seu texto. Gostaria, se possível, que você explicasse um pouco mais sobre a forma como a historiografia do século XIX contribuiu para a formação da consciência histórica de Huysmans, que foi utilizada na consecução do livro. Assim, até que ponto a escolha de Jona D'Arc relacionar-se-ia à idade média branca, essa seria uma idade média nacionalista?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Professor Clínio Amaral! Agradeço o prestígio pelo meu texto. Bom, Huysmans, assim como muitos intelectuais, artistas e escritores do fin-de-siècle francês leram o Jules Michelet. Inclusive, no próprio romance o historiador é citado como o grande nome da História no pós Revolução Francesa. Acredito que há uma influência muito grande, em especial dos tomos escritos sobre a História da França. Veja só. No Tomo V há a narrativa histórica da Joana d'Arc (inclusive, publicada no Brasil pela editora Hedra) e a visão do Michelet sobre Joana é compartilhada pelo Huysmans: uma clássica "fiel" do período medieval, com experiências religiosas em um período extremamente conturbado para a França, julgada em um processo transgredido por interesses políticos. Ora, me parece que é exatamente isso que o Huysmans atribui a Joana e, por isso, a coloca como parte da Idade Média branca. Não há uma idade média nacionalista em Huysmans, como há em Victor Hugo. Huysmans, neste romance, é um curioso sobre o período e não um nostálgico. Para ele, o interesse é discutir a parte metafisica que envolve todo o medievo e como foi possível conviver o Cristianismo com o paganismo e a inserção das primeiros cultos diabólicos.
      Abraços! (Leonardo Rocha Amorim).

      Excluir
  4. Parabéns pelo seu texto muito bem elaborado

    ResponderExcluir
  5. Olá Victor, tudo certinho? Muito legal o texto, parabéns!

    Você pretende ou chegou a comparar o material com o debate político em voga na França durante a Terceira República? Destaco as apropriações de Joana d'Arc pelos católicos e republicanos, principalmente. Caso não tenha feito, acho que vale muito a pena considerando o objeto e os acontecimentos na França do período.

    Abraços,

    Renan Birro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Renan, tudo bem? Obrigado por ler o texto. Fico feliz com seu elogio.
      Eu li o Jules Michelet, em especial o livro sobre a Joana d'Arc, que acaba, de certa forma, a criar essa imagem nacionalista recuperada pelos republicanos na Terceira República. O Huysmans não idealiza a idade média, mas retorna ao período para dissertar sobre as questões metafisicas que o envolvem, como o próprio Cristianismo, o paganismo e o diabolismo. A Joana d'Arc é uma personagem de toda essa dinâmica. Huysmans, de fato, a considera uma santa e sua importância para a unificação da França em torno da causa da Guerra dos Cem Anos, mas interessa-se muito mais em explorar as experiências religiosas. Agradeço a dica. Procurarei mais, agora, o envolvimento do autor com o panorama politico. Abraços!

      Leonardo Rocha Amorim

      Excluir

Postagens mais visitadas deste blog

Sejam bem vindos(as) ao Simpósio Online do Linhas

Certificados disponíveis!

Relação de Mesas