A morte do paganismo em The Broken Sword de Poul Anderson - Rodrigo Kmiecik

Rodrigo Kmiecik Graduando em História - Universidade Estadual de Londrina (UEL). Email: rodrigo.kmiecik@uel.br

Introdução

O conceito de medievalismo pode ser definido como a significação que se dá a qualquer elemento da Idade Média manipulado esteticamente em uma temporalidade que não a medieval. São interpretações do medievo realizadas pelos modernos, pelos românticos, pelos vitorianos, no cinema, na literatura, na prática política, entre outras épocas e âmbitos, produzidas desde o fim do período medieval. Podemos tomar como exemplo obras que versam sobre o universo do Rei Artur, como a série de romances O Único e Eterno Rei, de Terence Hanbury White, ou os romances que compõem As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Ainda temos obras que se inspiram fartamente pelas mitologias germânica e escandinava, como a ópera O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner, ou os romances que compõem a trilogia O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. No cinema, o medievo foi matéria de filmes como O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman e Marketa Lazarová, de František Vláčil. Nos vídeo games, a temática medieval é bastante recorrente, protagonizando jogos como Age of Empires II, Kingdom Come: Deliverance, entre outros. No âmbito político, as constantes disputas pelo poder e pela memória costumam instrumentalizar o passado à seu favor, de modo que a Idade Média foi constantemente relembrada e interpretada aos propósitos dos movimentos nacionalistas, do fascismo italiano e do nazismo, por exemplo, fornecendo meios de legitimação política buscados em um passado imaginado.


Em suma, desde o fim da Idade Média, a cultura ocidental versou sobre estes tempos e se apropriou deles através das mais diversas representações estéticas. Este trabalho objetiva traçar uma análise do romance The Broken Sword, de Poul Anderson, publicado em 1954, no qual o autor desenvolveu o embate entre paganismo e cristianismo do mundo medieval a partir de uma perspectiva mágica. Partindo da percepção do autor a respeito da Idade Média, busco entender como Anderson enxerga essa batalha religiosa, e quais as significações dadas a ela escrevendo no século XX; como esse medievalismo opera e o que ele pode dizer sobre seu presente.


Medievalismo e literatura

O estudo crítico acerca do medievalismo ganhou força no Brasil nas últimas décadas, sendo centro de discussão em diversos grupos de pesquisa como o LINHAS (Núcleo de Estudos sobre Narrativas e Medievalismos), da UFRRJ, e o POIEMA (Polo Interdisciplinar de Estudos do Medievo e da Antiguidade), da UFPel. Nesses grupos, os conceitos de medievalismo, neomedievalismo e usos do passado medieval têm sido bastante abordados pelos trabalhos acadêmicos. Para o historiador, o estudo dos medievalismos e seus desdobramentos é especialmente interessante no que diz respeito à compreensão de dilemas do presente a partir das significações que o homem contemporâneo dá ao passado em sua dialética histórica atual, sobre como a memória é significada em diversos âmbitos, seja ele artístico, político, ou mesmo educacional.


No ensaio Dreaming of the Middle Ages, Umberto Eco discutiu as razões pelas quais o mundo moderno e contemporâneo têm especial interesse pelo medievo, ou pelas idealizações que os sujeitos fazem desse período. Para Eco, “a Idade Média é a raiz de todos os nossos problemas ‘quente’ contemporâneos, e não é surpresa que voltemos a esse período a cada vez que nos perguntamos sobre nossas origens” (ECO, 1986, p. 65). Enquanto no Romantismo o arcabouço medieval era um recurso estético de maravilhamento, pela oposição desse campo de expressão em relação ao Renascimento e ao Iluminismo que o precedem, na contemporaneidade a Idade Média tornou-se um lugar de disputas de memória e projeções de problemas do presente.


De acordo com o medievalista Mauricio da Cunha Albuquerque, consolidou-se uma temporalidade medievalística típica do nosso tempo, na qual a temporalidade extrapola as noções cronológicas mais convencionais e adentra o campo temático: “[está] mais para as ‘coisas’, para aquilo que se associa a um dado período da história humana e que, pelos mais variados motivos, torna-se característico dele” (ALBUQUERQUE, 2019, p. 30). É uma noção bastante acertada sobre a recepção do medievo. Durante o meu estágio de regência no 6º ano do ensino fundamental, um questionário de ideias prévias respondido pelos alunos exemplifica essa questão. Quando perguntados a respeito de seus assuntos ou temas favoritos no estudo da História, uma das alunas respondeu que sua predileção estava no medievo, devido aos “lindos castelos e grandes dragões”. 


A Espada Quebrada

The Broken Sword, de Poul Anderson, figura entre os grandes clássicos da literatura fantástica do século XX. Tanto em sua grandeza quanto em seu esquecimento pelo público brasileiro, o livro de Anderson se manteve entre os maiores do gênero ao lado de Elric de Melniboné de Michael Moorcock, Gormenghast de Mervyn Peake, The Chronicles of Amber de Roger Zelazny, Lyonesse de Jack Vance, entre outros.


Poul Anderson nasceu a 25 de novembro de 1926 em Bristol, Pensilvânia, Estados Unidos. Iniciou sua carreira como escritor de ficção científica publicando em revistas pulp como a Astounding Stories, na qual publicou seu primeiro conto em 1947. Ao longo de sua prolífica carreira escreveu principalmente trabalhos de ficção científica sobre conquistas interplanetárias e viagem no tempo, mas se enveredou pela fantasia em obras como The Broken Sword e Conan the Rebel. Venceu o Hugo Award sete vezes.

 

Apesar do esquecimento, The Broken Sword não é um livro inédito por aqui. Foi publicado no Brasil nos anos 1970 pela editora Global, em tradução bastante ruim (que traduz “elf” como “gnomo”, por exemplo). O livro tem duas versões. A original, publicada em 1954, e uma revisão feita por Anderson em 1971. Muitos críticos desse meio literário, como Michael Moorcock, afirmam que essa versão revisada empobreceu o original. O livro traduzido no Brasil foi a versão revisada de 1971. Recentemente, The Broken Sword ganhou novas edições em inglês pela série Fantasy Masterworks da editora Gollancz, que se preocupou em recuperar o texto original de 1954.


O romance foi às livrarias no mesmo ano da publicação de The Fellowship of the Ring, primeiro volume da trilogia O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. Frequente crítica do conterrâneo autor da Terra Média, Michael Moorcock comparou os livros e afirmou que The Broken Sword é superior ao épico do Um Anel. Para Moorcock, “a saga de Tolkien lida com o sentimento de sacrifício típico do pós-Primeira Guerra Mundial, enquanto o livro de Anderson está mais preocupado com as questões existenciais que permeiam a sociedade ocidental pós-1945” (MOORCOCK, 2003). Não obstante, a ficção de The Broken Sword está desvinculada das noções de heroísmo numinoso, linhagens e restauração da ordem, como acontece em O Senhor dos Anéis.


Michael Moorcock descreveu The Broken Sword como “uma tragédia de ritmo acelerado, em que o heroísmo humano, o amor e a ambição, manipulados por deuses amorais, elfos e trolls, conduzem inevitavelmente à consequências trágicas” (MOORCOCK, 2003). O livro se passa na Inglaterra medieval da Era Viking, durante as invasões escandinavas que reclamaram terras britânicas para si e firmaram propriedade na região conhecida como Danelaw. A história começa com Orm, um pirata dinamarquês que deixa sua terra em busca de pilhagens no oeste. Acaba por conquistar bastante influência na região e finca raízes em Danelaw, onde casa com Aelfrida, filha de um nobre cristão, e é batizado. Desde o início, já temos pequenos conflitos calcados na luta entre paganismo e cristianismo no âmbito social, entre Orm e as vontades cristãs de sua esposa Aelfrida, bem como a relação de Orm com o padre local.


Orm e Aelfrida têm um filho chamado Valgard. Por displicência de Orm, que havia expulsado o padre de suas terras, seu filho não é batizado: “Orm é um cristão, mas indiferente, e o seu filho ainda não foi tocado por nenhum deus” (ANDERSON, 2002, p. 9). Certa noite, Imric, o rei dos elfos, vai ao mundo humano e rapta o filho de Orm, mudando seu nome para Skafloc. Deixa outro bebê no lugar da criança roubada, que será tomado pelos pais como Valgard, sem que eles soubessem da troca. A trama desenvolve-se a partir desse cenário: a criação de Skafloc, um humano, entre os elfos, e a criação de Valgard, um elfo-troll (ele é concebido no estupro de Imric a uma troll prisioneira, mas fisicamente, por feitiçaria, aparenta ser um humano), criado entre os homens. O embate entre Skafloc e Valgard se dá tanto em âmbito pessoal, pois um é a sombra do outro e se odeiam por natureza, quanto em âmbito universal, pois no futuro Skafloc liderará os elfos em uma grande guerra contra os trolls, liderados por Valgard.


A espada quebrada do título é Tyrfing, uma espada mágica da mitologia nórdica, quebrada pelo próprio deus Thor em The Broken Sword. Quando adotado e levado para as terras dos elfos, Skafloc é presenteado com essa espada que, apesar de quebrada, é muito poderosa. É dito que um dia ele precisará muito dela, e isso se mostra no fato de que a espada é derradeira no embate contra seu “irmão” Valgard. Uma das missões de Skafloc é buscar pelo gigante Bölverk e convencê-lo a forjar Tyrfing novamente.


Paganismo e cristianismo

Em um mundo fantástico habitado seres mágicos e marcado por guerras entre raças violentas e inimigas ao longo das eras, Poul Anderson trabalha o embate entre o paganismo e cristianismo muito além do plano mundano; essa batalha religiosa permeia conflitos reais entre os seres mágicos no mundo de The Broken Sword. Um dos episódios mais marcantes dessa luta, testemunhado por Skafloc em sua juventude, é descrito logo no início do livro, no capítulo de número 4, que narra as primeiras aventuras de Skafloc nos ermos de Elfheim (terra dos elfos).


É narrado que Skafloc tinha o hábito de vagar pelas florestas da região, onde caçava, conversava com animais e gnomos que habitavam as profundezas dos bosques. Em um desses passeios, Skafloc ouve o som de uma flauta ecoando por entre as árvores. Decide correr em direção ao som, tão furtivo que a criatura não nota sua aproximação: 


Era um ser estranho, semelhante a um homem, mas com pernas, orelhas e chifres de bode. Soprava sua flauta melancolicamente, e seus olhos eram grandes, tristes e aquosos.

‘Quem é você?’, Skafloc perguntou encantado.

O ser abaixou sua flauta, parecendo prestes a fugir, mas relaxou e sentou-se num tronco. ‘Sou um fauno”, respondeu com estranho sotaque.

‘Nunca ouvi falar de tais seres”, Skafloc sentou-se com as pernas cruzadas na relva em frente a ele.

O fauno sorriu tristemente no crepúsculo. A estrela vespertina brilhava acima de sua cabeça. ‘Não há nenhum além de mim por aqui,’ ele disse. ‘Sou um exilado.’

‘E de onde você veio, fauno?’

‘Vim das terras ao sul, depois da morte do grande Pã, quando o novo deus cujo nome eu não posso dizer chegou à Hélade. Não havia mais lugar para os deuses e para os seres antigos que assombravam a terra. Os sacerdotes derrubaram o bosque sagrado e construíram uma igreja — Oh, lembro dos gritos das dríades, ecoando sem serem ouvidos no ar parado, quente, parecendo ecoar para sempre. Esse som permanece em meus ouvidos, sempre permanecerá’, o fauno sacudiu sua cabeça chifruda. ‘Fugi para o norte,’ disse ele, ‘mas me pergunto se meus antigos companheiros que ficaram, lutaram e morreram não foram mais sábios. Isso foi há muito, muito tempo, jovem elfo, e é mais solitário do que antigo.’ Havia lágrimas nos olhos do fauno. ‘As ninfas, os faunos e até os deuses estão mortos, são poeira soprada por ventos desolados. Os templos permanecem vazios, brancos sob o céu, e lentamente desmoronam à ruína. E eu… Eu vago sozinho nessa terra estrangeira, desprezado pelos seus deuses e evitado pelo seu povo. Uma terra de névoa, chuva, invernos gélidos feito aço, mares cinzentos e tempestuosos, e um sol pálido se mostrando sobre as nuvens. Não há mais um céu azul e um oceano cor de safira de ondas calmas, não há mais pequenas ilhas de pedra e lindos bosques quentes onde as ninfas esperavam por nós, não há mais uvas pendendo dos antigos vinhedos e velhas figueiras carregadas de frutos, não há mais deuses majestosos no alto do Olimpo.’

De repente o fauno calou seu murmúrio, ergueu-se, levantou suas orelhas e virou-se, fugindo por entre os arbustos. (ANDERSON, 2002, p. 14-15).


O breve monólogo do fauno conta como o cristianismo destruiu o paganismo nas terras mediterrâneas de Hélade, latinização do termo grego Ἑλλάς, que significa “Grécia”. O conflito vai muito além das desavenças mundanas de Orm, um pirata escandinavo, com os padres ingleses em Danelaw. O momento vivenciado por Skafloc é a significação da luta contra o paganismo – e sua derrota frente ao cristianismo – no âmbito mitológico, mas tido como real. Narrativas mito-poéticas eram muito comuns na literatura medieval, especialmente na tradição cristã. Exemplos são as obras de história do godo Jordanes, que encaixava a história do povo godo na teleologia cristã cuja origem encontrava-se na criação do mundo e o final no Apocalipse bíblico, tendo início e fim definidos, e o meio preenchido pelos feitos do seu povo.


Recursos mito-poéticos foram constantemente usados nas sagas islandesas, que também servem de inspiração temática a Poul Anderson ao escrever sobre povos, criaturas e deuses nórdicos. Entretanto, a tradição literária escandinava surge especialmente após a cristianização dessas terras, e os recursos mito-poéticos atuam constantemente como motivo retórico da luta cristã contra o paganismo, e não o contrário. Na saga de Olaf Tryggvason (o primeiro rei cristão da Noruega), por exemplo, é mostrado que Olaf também enfrenta o paganismo na sua forma mítica, quando o deus nórdico Odin aparece a ele na forma de um demônio.


De acordo com a pesquisadora de literatura Weronika Łaszkiewicz, o gênero fantástico moderno se utiliza de artifícios mitológicos como elfos, bruxas, dragões, magia etc., para falar sobre assuntos do mundo real. Segundo a autora, os escritores “usam as estruturas da literatura fantástica – assim como em qualquer outro tipo de literatura – para expressar suas opiniões sobre todos esses tópicos [política, economia, psicologia e sexualidade], incluindo a religião” (ŁASZKIEWICZ, 2013, p. 26). Em The Broken Sword, cuja história se passa na Europa setentrional, o cristianismo é abordado por Anderson como uma nuvem que se aproxima, vinda do sul, e engolfa homens e seres mágicos. Łaszkiewicz ressalta esse viés a respeito do embate entre as velhas crenças e a nova cristandade: “elfos, trolls e outras criaturas mitológicas falam sobre o “Cristo Branco”  com medo e desprezo” (ŁASZKIEWICZ, 2013, p. 34).


Além disso, o romance lida com o embate moral entre Skafloc e Freda, que vivem um romance incestuoso – apesar de Skafloc não saber que Freda é sua irmã, capturada do mundo humano. Quando descobrem o parentesco, Skafloc, despido de qualquer moral que impeça tal relação, insiste para que continuem juntos; mas Freda discorda e se agarra à palavra de Deus, sabendo que estaria cometendo um pecado em continuar tal amor. Nesse momento, Skafloc fica enfurecido: “um deus que se intromete entre dois que se amam é uma criatura má, um demônio – eu puniria esse deus com minha espada caso ele aparecesse. Certamente não o seguiria!” (ANDERSON, 2002, p. 93). 


Desse modo, o dilema religioso perpassa diversos conflitos ao longo do livro, constantemente advogando a favor daqueles que outrora eram tidos como um “outro” religioso, os pagãos. Ao fim do livro, a conclusão da tragédia precede tempos de mudança: “Skafloc está morto, Freda não tem perspectivas de futuro, e o rei dos elfos teme que os deuses e as criaturas míticas irão desaparecer eventualmente em razão da civilização e seu ‘deus branco’” (ŁASZKIEWICZ, 2013, p. 35). Assim, a voz do fauno exilado ecoa por todo o enredo, e o desfecho cristaliza a angústia vivida por ele. Existe uma melancolia pulsante que permeia o épico de The Broken Sword, trabalhada por Anderson para evidenciar as supressões que a cristianização da Europa causou às culturas pagãs. O autor não está preocupado em discutir se os pagãos que foram convertidos estavam ou não dispostos em acatar uma nova religião, não se preocupa nos interesses políticos e econômicos de ambos os lados. Anderson significa todo o paganismo como um ser vivo, como as criaturas mágicas que aparecem em suas páginas, e assim mostra sua lenta morte. O feérico representa algo livre que sucumbe às amarras de uma cristandade crescente e avassaladora, quase imperialista. 


É evidente que o discurso literário pode legitimar uma ou outra instituição, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Significar os pagãos como um “outro” religioso era uma forma de falar em favor da Cristandade em expansão na Idade Média, e esse motivo retórico foi frequentemente utilizado em textos medievais, especialmente eclesiásticos, ao falarem sobre os povos pagãos do “fim do mundo”, como Rimbert se referira às terras escandinavas em sua Vita Anskarii. No século XX, a literatura também é uma forma de expressão de percepções, e o criticismo religioso é uma delas. Em The Broken Sword, Anderson instrumentaliza as noções mundanas do embate religioso no medievo e as significa em uma representação estética mitológica, fantástica, que universaliza os dois lados combatentes. Essa universalização, típica de um mundo em globalização, não fala apenas das lutas entre o paganismo e o cristianismo na Europa medieval, mas brande críticas a todas as formas em que o cristianismo se desdobrara na América, como o fanatismo religioso, perseguições e a morte de crenças autóctones, constantemente presentes na memória dos Estados Unidos.


Além disso, do Romantismo ao século vinte, constitui-se um forte interesse pelo passado nacional, folclore e mitologia. No século vinte, o ápice da secularização da sociedade ocidental, o arcabouço pagão é cada vez mais acolhido pelas artes, e na literatura pululam algumas obras que falam em sua defesa contra o cristianismo que teria causado sua destruição no passado. Evidentemente, é uma idealização das lutas ocorridas no medievo. Ao comentar sobre as narrativas medievais a respeito da conversão da Escandinávia, Anders Winroth observou que “todas elas retratam a violência política na Escandinávia como uma épica batalha entre cristianismo e paganismo” (WINROTH, 2012, p. 117). O autor argumenta que o enfoque na luta religiosa era um motivo narrativo bastante comum entre os autores que escreveram sobre o período de conversão, uma vez que eram eclesiásticos redigindo a História, que muitas vezes buscavam legitimar instituições como dioceses ou reforçar modelos de santos e reis missionários. Entretanto, para Winroth, a religião era um elemento secundário nestes conflitos, uma vez que a forma de poder político – pautado na centralização do poder em um rei a na diminuição da influência dos chefes –  era, de fato, o principal motivo dos embates entre reis e chefes escandinavos.


Portanto, notamos que desde o medievo os autores dão significações às memórias em disputa, seus personagens e lutas; significações que sirvam aos seus próprios propósitos. Poul Anderson, vinculado às suas noções do passado, bem como suas opiniões acerca da relação do cristianismo com outras religiões ao longo da história, desenvolve uma metáfora ficcional que resume essas lutas sob sua percepção: um cristianismo totalizante que destrói um paganismo singular gradualmente. 


Considerações finais

Em The Broken Sword, Anderson consegue exercer a alteridade para com o “outro” pagão através do fantástico literário. Salvo anacronismos, o motivo narrativo trabalhado por Anderson ecoa a significação mito-poética medieval ao representar o campo sobrenatural, fantástico ou maravilhoso em um conflito direto com o plano real e natural. Se no medievo esse motivo narrativo era fruto de uma carga analógica própria do imaginário medieval, no qual a noção de sobrenatural e natural tinham uma divisão pouco nítida, em Anderson gera uma espécie de confronto de realidades universais, recorrentes no século XX, propiciando o exercício da alteridade entre o leitor e o “outro” representado no romance. Nessa retórica ficcional, Anderson inverte os lados e, em vez de falar em defesa da religião de Cristo, aponta as chagas causadas por ela – não são apenas as feridas causadas ao povo que acreditava nesses mitos, mas assassínios e destruições impostas aos próprios mitos: aos faunos, dríades, ninfas, e ao grande Pã. 


Ainda que seja impossível compreender a Idade Média a partir das interpretações do presente sobre o passado medieval – erro que pode levar o estudo dos medievalismos ao anacronismo –, essas interpretações têm muito a dizer sobre os sujeitos históricos de seu próprio tempo, ou seja, sobre a realidade na qual estão inseridas quando concebidas materialmente. Se no passado os templos se tornaram ruínas e os machados destruíram as florestas sagradas, arrancando os faunos de seus vergéis e exilando-os em terras frias, nas páginas de The Broken Sword suas flautas podem ser ouvidas uma última vez.


Referências bibliográficas:

ALBUQUERQUE, Mauricio. Por trás da capa e da espada: o neomedievalismo em “Príncipe Valente”, de Hal Foster (1939-1940). Dissertação de Mestrado. Pelotas, 2019.

ANDERSON, Poul. The Broken Sword. London: Gollancz, 2002.

ECO, Umberto. Travels in Hyperreality. New York, Harvest, 1986.

OORCOCK, Michael. Tolkien times two. The Guardian, 2003. Disponível em <https://www.theguardian.com/books/2003/jan/25/featuresreviews.guardianreview18>. Acesso em: 12 ago. 2020. 

ŁASZKIEWICZ, Weronika. Finding God(s) in Fantasylands: Religious Ideas in Fantasy Literature. Crossroads: Journal of English Studies. Białystok: 1/2013, p. 24-36.

WINROTH, Anders. The conversion of Scandinavia: Vikings, merchants, and missionaries in the remaking of Northern Europe. New Haven: Yale University Press, 2012.


Comentários

  1. Olá, Rodrigo

    Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo texto! Muito bem escrito e muito bem construído.
    Tenho uma pergunta bastante pontual sobre, e deveras secundária para com o objetivo do texto. Você argumenta que sua fonte é superior ao épico do Um Anel.

    Para Moorcock, “a saga de Tolkien lida com o sentimento de sacrifício típico do pós-Primeira Guerra Mundial, enquanto o livro de Anderson está mais preocupado com as questões existenciais que permeiam a sociedade ocidental pós-1945” (sua frase)

    Apesar de você me dar algumas justificativas como: noções de heroísmo numinoso, linhagens e restauração da ordem; como colocar superioridade ao comparar duas obras que, por mais que publicadas no mesmo período, foram escritas em períodos diferentes e são frutos de sentimentos diferentes (como bem pontuado na passagem)?

    Existem indícios de que os primeiros manuscritos de O Senhor dos Anéis foram escritos ainda em 1937, enquanto Poul Anderson publicou seu primeiro conto 10 anos depois, em 1947 (e nem é a sua fonte). Então, a pergunta que fica é: a superioridade pode ser estabelecida a partir dos elementos narrativos e também nos sentimentos que perpassaram a construção narrativa? Não sei até que ponto é possível essa comparação.

    Bem, ademais, só a título de curiosidade, realmente a temática do existencialismo foi algo comum, pós-1945, às artes. No Japão, filmes como Banshun podem nos mostrar isso.

    Obrigada pela atenção e bom dia!

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    1. Olá, Lunielle

      Muito obrigado pela sua pergunta e pelos elogios.

      Michael Moorcock é quem argumenta que The Broken Sword é superior a Lord of the Rings. Na minha frase seguinte à citação, apenas cito elementos que diferem as obras em questão, apesar de que, sim, também acho o livro do Poul Anderson superior. Mas penso que os temas não são critério para definir a superioridade entre textos literários. Como observou, é uma questão secundária, e devo dizer que diz muito mais respeito à Literatura que à História. Em História, poderíamos tomar as duas obras em uma análise comparativa e estudar a percepção dos autores a respeito dos mesmos temas, tentando entender suas subjetividades dentro das próprias temporalidades, como você elucidou na sua questão. Em Literatura (ou crítica literária), no sentido de julgar a qualidade da obra, penso que os critérios devem ser mais objetivos quanto às questões técnicas do texto, ou seja, estilo. Questões que possam quantificar, digamos, a qualidade dos textos. Existem vários níveis da construção da prosa que podem ser comparados de maneira objetiva. Um deles é o narrador. Por exemplo, Tolkien se utiliza do velho narrador onisciente, que se intromete, dá palpites, explica e explica, e não mostra muita coisa. Podemos considerar o narrador onisciente uma técnica obsoleta desde a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1856, obra na qual o francês desenvolveu o discurso indireto livre e a falsa terceira pessoa, técnicas mais sofisticadas que foram desenvolvidas ao longo do século XX, tendo um bom exemplo o americano William Faulkner. É claro que Poul Anderson não é sofisticado como Faulkner, mas podemos observar um esmero estilístico em The Broken Sword, inclusive o uso do discurso indireto livre.

      Flaubert costumava dizer que tudo era estilo. De criação do enredo e disposição das cenas, à sintaxe das frases e escolha dos adjetivos, tudo é estilo. Sabe-se que Tolkien sequer planejou o romance O Senhor dos Anéis ao escrevê-lo, tanto que, ao chegar nas minas de Moria, ficou quase um ano sem escrever por causa dum bloqueio criativo. Uma obra que sequer foi delineada com cuidado antes de ser escrita é raramente salva por improvisos, ainda que O Senhor dos Anéis seja sobre um repeteco teleológico e maniqueísta. E, sob uma perspectiva técnica, não podemos dizer que Tolkien foi sequer um grande artista. Alguns exemplos da prosa:

      “Bri era a aldeia mais importante daquela região, que era pequena e pouco habitada, semelhante a uma ilha cercada por terras desertas. Além da própria aldeia de Bri, havia Estrado do outro lado da colina; Valão, num vale profundo um pouco mais a leste, e Archet, na beirada da Floresta Chet. Ao redor da colina de Bri e das aldeias, havia um pequeno campo de plantações e de matas exploradas, cuja largura era de apenas algumas milhas.”

      Repare, a descrição é apenas tipológica, elementar. O que tem a leste, o que no vale, nomes e mais nomes, mas não tem nada psicológico, nenhuma opinião ou fala dos personagens travestida de narrador, que seria o discurso indireto livre, ou mesmo uma falsa terceira pessoa. É como se fosse a voz de Deus falando. Não é a visão de nenhum dos personagens sobre o lugar. É uma descrição estática, sem vida, não compõe sequer uma cena, é como olhar para um quadro.

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    2. Outro trecho:
      “A região à frente descia em direção ao sul, mas era deserta e sem trilhas: arbustos e árvores raquíticas cresciam em trechos densos, com grandes espaços vazios entre eles. O capim era ralo, áspero e cinzento; as folhas nas moitas estavam amareladas e caindo. Era uma região triste, e a viagem era lenta e melancólica. Falavam pouco enquanto avançavam.”

      Tolkien tenta elucidar um ar de decrepitude na paisagem e até consegue o efeito apesar do palavrório, mas esmaga tudo quando diz “Era uma região triste”. Ele até chega a construir uma descrição simbólica anteriormente, mas a esmaga reiterando o óbvio com um adjetivo fraco. Uma limitação técnica absurda pra quem escreve em meados do século XX. Lembrando, tudo que falo aqui é uma tentativa de analisar o texto da forma mais objetiva possível, do ponto de vista literário, ou de escritor.

      Em suma, tudo é muito vago, fraco, pobre. As descrições não são simples – ao contrário, são grandes e numerosas, mas brilham como ouro dos tolos –, são simplórias. Os adjetivos geralmente são muito fracos e subjetivos, como belo, triste, bom, alegre, sábio, etc, coisas que não mostram nada e nunca estão expressas pelo ponto de vista de algum personagem através de alguma técnica de discurso com voz narrativa. Não há esmero artístico, suprimido pela delírio filológico, acredito. Particularmente, acho abismal como um linguista que criava línguas novas faz tão mau uso da própria. Os símiles são pobres, não há profundidade psicológica em nenhum dos personagens; o máximo que temos é a dualidade de Boromir e Saruman, mas ainda superficiais, pois seus conflitos não envolvem nada além do "pecado" do Anel. Os cenários também não têm vida: é como descrever uma maquete, dizer o que está ao sul e o que está ao leste, sem fazer analogias com tamanhos, formas, nomes, nada disso. Sequer metáforas, como Umberto Eco faz em O Nome da Rosa, quando compara a grandiosidade do mosteiro ao tamanho poder de Deus. Uma metáfora simples, construída sob o ponto de vista de um personagem, na terceira pessoa, mas de uma riqueza muito grande. E vale ressaltar que, mesmo o primeiro livro sendo ruim o bastante, usei apenas ele nesse comentário. As Duas Torres ainda tem o bônus de ser uma bagunça temporal completa, um romance muito mal estruturado, e O Retorno do Rei, na minha opinião, é de um desleixo absurdo.

      Quanto ao conteúdo, e isso é uma questão extremamente subjetiva, mas aproveito a questão para expressar minha opinião, também acho desinteressante. As criações fantásticas de Tolkien têm pouca originalidade, majoritariamente importadas do folclore escandinavo, germânico e celta. Brilham pouco perto do lume dos textos de gente como Lord Dunsany e Clark Ashton Smith, que, além de terem uma prosa bastante bonita, também se enveredaram na criação de mundos de fantasia total, feito Lord of the Rings, e antes de Tolkien. Mas esses escritores são mais originais, o que seria assunto pra um ensaio à parte.

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    4. Em obras como Lord of the Rings ou genéricos inspirados ou não por esta, protagonistas geralmente são heróis em suma essência, motivados ou por uma paixão completa, ou por uma razão desumana, que os afasta da realidade e pinta sua moralidade com contornos bem definidos. Este é o caso de Aragorn, por exemplo, que carrega razões e paixões inabaláveis, todas envoltas em atos de amor e heroísmo pelo que é sempre e inquestionavelmente certo. Em Tolkien, milhões morrem e permanecem nas valas no esquecimento, sem nome nem questão proposta, esquecidos.

      No mundo de Tolkien, a estrutura Bem x Mal é uma luta teleológica, ou seja, ela começa com um fim já bem definido, quase profético, bem representado por personagens que resgatam a marionete teleológica bíblica, glorificada por sua sujeição ao sofrimento e sua passividade, em Frodo; e no oposto extremo, do mal absoluto e sem razão representado por Sauron e seus agentes. Assim, em Tolkien há um vencedor definido, e este vencedor é o Bem. Ele triunfa sobre o Mal e as coisas são restauradas, a ordem passa a imperar.

      Além disso, outro fator crucial é o louvor às linhagens, ao valor que se dá à elas. Isso pode ser, dentre tantos outros motivos, uma influência clara da Literatura medieval da qual Tolkien muito apreciava e muito injetava em suas obras. O apego ao nome, aos títulos do reino ou do país, a importância magnânima de ser um descendente de um povo que um dia, no passado distante, teve dias de glória na ilha de Númenor. Consiste, em resumo, no fetiche por inventários e árvores genealógicas intermináveis.

      Tolkien, um conservador que escreve na primeira metade do século XX, não consegue ceder às mudanças e, para ele, qualquer perturbação do status quo é um perigo. Até mesmo as aventuras através das estradas que levam para sabe-se lá onde só existem porque culminarão em restituir a ordem. Bilbo e Frodo não exploram a Terra-Média para conhecer o mundo; o fazem com a motivação teleológica de defender a ordem, seja participando da batalha contra um terrível dragão, seja derrotando o Senhor do Escuro.

      Além disso, alguns dos fãs ignoram tudo que foi dito até agora, mas dizem que o teor cristão em Lord of the Rings que é, sim, o problema. Dos temáticos, acho um dos menores problemas. O problema não é o cristianismo em si, evidentemente, mas seu uso simplório, pueril, quase tosco, pelo autor. O imaginário cristão rendeu obras magníficas ao longo da história da literatura, como Paraíso Perdido, de John Milton, e A Divina Comédia, de Dante Alighieri, para citar as mais expoentes. Além disso, na idade contemporânea, a mentalidade cristã foi reproduzida em grandes obras de horror que versavam sem alteridade e sob as lentes do medo contra bruxas, feiticeiros, xamãs, chifres e deidades antigas, o medo ao outro não-cristão, consolidando boa parte da melhor literatura de horror que há, como os trabalhos de Arthur Machen e Algernon Blackwood. Ou seja, para mim, Tolkien é ingênuo até numa temática tão mais próxima de si, a religião; não se apega aos horrores do Apocalipse, aos monstros, aos temores à um deus misterioso, nem às perfídias de Caim, nem às imaginações do Gêneses, nem à sabedoria do Eclesiastes. Resume toda sua influência do imaginário cristão ao maniqueísmo, que sequer na Bíblia é tão simplista como na Terra-Média, e nas lições de moral que mais são reflexo de seu estado social – a classe média conservadora inglesa da primeira metade do século XX.

      Em suma, e falando mui pessoalmente: eis o porquê de eu concordar com a opinião do Michael Moorcock. Objetivamente: trato artístico limitado, desleixado, simplório, pobre e repetitivo, sem Técnica, sem profundidade psicológica, com um narrador ultrapassado e sem metáforas, sem Beleza. Subjetivamente: de pobreza temática, enredo simplório, personagens rasos e com não mais de duas facetas quando muito, num mundo que só se salvam os nomes e as línguas inventadas, ainda que nada disso sirva para fazer Lord of the Rings ser a grande obra de fantasia que os fãs costumam exaltar.

      Espero ter respondido! Bom dia!

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  2. Pesquisadora de literatura Weronika Łaszkiewicz, o gênero fantástico moderno se utiliza de artifícios mitológicos como elfos, bruxas, dragões, magia etc., para falar sobre assuntos do mundo real. Segundo a autora, os escritores “usam as estruturas da literatura fantástica – assim como em qualquer outro tipo de literatura – para expressar suas opiniões sobre todos esses tópicos [política, economia, psicologia e sexualidade], incluindo a religião” (ŁASZKIEWICZ, 2013, p. 26). Achei muito Pontual essa citação em seu trabalho muito esclarecedor todo esse contexto. Gostaria que falasse um pouco sobre essa apropriação desses artifícios mitológicos, e sobre os sonhos imagéticos já que essas estruturas fantasiosas reforçam a existência do paganismo e da consolidação do cristianismo ate mesmo nos dias atuais. E possível identificar uma ressignificação para explicar essas temáticas?

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    1. Olá, Edilson

      Muito obrigado pela sua pergunta.

      Certamente há uma ressignificação. Penso que o mais importante para o historiador é tentar entender como elas ressignificações se dão em suas próprias temporalidades: ou seja, os anseios do tempo, que podem ou não definir os rumos da obra, e especialmente as intenções e ideias. Evidentemente existe um interesse prévio dos autores, mas o uso feito por eles pode variar muito. Poul Anderson usa o paganismo num sentido amplo, para falar de sua morte e supressão total frente ao cristianismo, uma visão contemporânea, e não medieval. Em As Brumas de Avalaon, Marion Zimmer Bradley usa o paganismo em outro sentido, que diz respeito ao empoderamento femino. Bradley faz do tema uma pauta feminista; no medievo não havia feminismo, mas as mulheres eram bastante participativas da ritualística celta, principal inspiração para a autora, então podemos traçar uma ressignificação clara, que redesenha temas do passado em favor de aspirações presentes.

      Espero ter respondido!

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  3. Parabéns pelo texto, bem feito e claro

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  4. Caríssimo,
    Tudo bem? Parabéns pelo trabalho. Uma questão: em sua experiência no estágio de regência, houve a possibilidade de abordar os conteúdos da Idade Medieval por meio das obras portadoras de recepções do Medievo, como as citadas no texto? Se sim: como se deu? Se não, crês que seria benéfico, para um primeiro "approach" do conteúdo de Medieval aos discentes escolares, utilizar de obras (em sentido lato) que carregam recepções da Idade Média? Abraço,

    Marcos Jorge Pinheiro

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    1. Olá, Marcos

      Muito obrigado pela sua pergunta e pelo elogio.

      Infelizmente, não houve a oportunidade de desenvolver mais o conteúdo. Essa questão foi respondida em um questionário de ideias prévias que realizamos com os alunos, no primeiro dia da regência, pra ter uma noção geral das impressões da turma sobre o estudo da História. Durante as aulas seguintes, trabalhamos com o conteúdo de História da América. Mas, sim, creio que seja benéfico. Pode ser feito um questionário de ideias prévias a respeito do que os alunos entendem por medievo e, a partir das respostas, tentar desenvolver melhor os temas. Certamente haverá casos nos quais a recepção venha de medievalismos. O conceito não é tão simples, mas creio que possa ser trabalhado no ensino médio. Em vez de dizer que Assassin's Creed: Valhalla representa os vikings de modo errado e fantasioso, como muitos se aprontam em fazer, pode ser interessante discutir os por quês das representações do jogo serem como elas são. Como os vikings foram representados ao longo da idade contemporânea? Como foram reinterpretados. Penso ser uma alternativa bastante frutífera, porque tu vai estar desenvolvendo não apenas o conteúdo historiográfico, majoritariamente factual, mas abarcando uma discussão conceitual que, além de importante para entender a construção da História e da Memória, envolve temas que estão mais próximos da realidade dos alunos, como jogos eletrônicos, filmes e séries de televisão.

      Espero ter respondido! Abraço!

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  5. Olá Rodrigo, tudo bem?
    Sua discussão é bem importante e faz parte do meu interesse. Essa literatura que mescla elementos do paganismo e do cristianismo medieval é, para mim, um dos temas mais complexos que tem para discutir em um romance. Parabéns por se dedicar a esta discussão. Para vocês, qual a importância da literatura de cunho pagão na formação da obra "The Broken Sword"? Infelizmente, eu não tive contato com esta obra, mas me interessei.

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  6. Olá Rodrigo, tudo bem?
    Sua discussão é bem importante e faz parte do meu interesse. Essa literatura que mescla elementos do paganismo e do cristianismo medieval é, para mim, um dos temas mais complexos que tem para discutir em um romance. Parabéns por se dedicar a esta discussão. Para vocês, qual a importância da literatura de cunho pagão na formação da obra "The Broken Sword"? Infelizmente, eu não tive contato com esta obra, mas me interessei. (Leonardo Rocha Amorim).

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    1. Olá, Leonardo

      Muito obrigado pela sua pergunta.

      Não sei exatamente o que você quer dizer com "literatura de cunho pagão". Mas, sabe-se que Poul Anderson teve contato com a literatura escandinava, esta que, apesar de escrita majoritariamente por autores cristãos, traz grande miscelânea a respeito dos mitos pagãos, como o trabalho do Snorri Sturlsson. Anderson inclusive escreveu outros romances com temática semelhante, se utilizando também de personagens históricos, como em seu "Hrolf Kraki's Saga" (1973). Além disso, é muito provável que Anderson tenha tido contato com obras de outros autores que versaram sobre a Escandinávia medieval no século XIX e XX, como o Robert Louis Stevenson e sua releitura da famosa Eyrbyggja saga, no romance "The Waif Woman: A Cue, from a Saga" (1914). Fora isso, seria necessário uma pesquisa de maior fôlego para entender quais foram as influências exatas do autor, mas podemos afirmar que, ao longo do século XX inteiro, existe um forte interesse no medievo relido e reinterpretado na literatura fantástica, pelas mãos de Robert E. Howard, do próprio Tolkien, da Marion Zimmer Bradley, do Andrzej Sapkowski, entre tantos outros, com as mais diversas releituras do passado. E, pessoalmente, vale a pena conhecer The Broken Sword. Belo romance!

      Espero ter respondido!

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