A Idade Média como “origem”: abordagens do medievalismo no estudo das obras de Marc Bloch e Henri Pirenne - Keila Araújo & Camille Leandro

Keila N. S. de Lima Araújo Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email: keilanlima3428@gmail.com

Camille Ferreira Leandro Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: camilleferreiraleandro@hotmail.com


O ensaio tem como objetivo ressaltar alguns aspectos do medievalismo presentes em duas obras clássicas da historiografia do século XX, Os Reis Taumaturgos (1924), escrito por Marc Bloch e Maomé e Carlos Magno: O impacto do Islã na civilização européia (1937), do historiador belga Henri Pirenne. A expressão remete, por sua vez, às recepções da Idade Média pelos séculos posteriores e ganhou maiores contornos nos Estados Unidos dos anos de 1970, quando o historiador Leslie Workman começou a desenvolver uma corrente de pensamento, que visava estudar as apropriações da idade média e a aplicação de modelos medievais às necessidades contemporâneas. 


Instigado também a procurar aspectos medievais no presente, Umberto Eco produziu alguns trabalhos a respeito da temática e sobre o termo neomedievalismo. Em seu texto Dreammin of the Middle Ages (1986), o autor italiano diz que há certas maneiras de enxergar – nas suas palavras, sonhar – a Idade Média, dentre as quais, seleciona dez para discorrer. Para Eco o essencial seria que, antes de regozijar ou lamuriar sobre as Idades Médias, tenhamos um dever moral e cultural de exprimir de qual delas nos referimos. Isso significa, também, dizer quem somos e com o que sonhamos da Idade Média – se é na forma de divertimento, se reflete sobre problemas básicos ou se está apoiando, mesmo sem perceber, algum novo enredo reacionário. (ECO, 1986).


Dentre as idades sinalizadas, encontram-se as Idades Médias da reconstrução filológica. Estas abrangem os estudos acadêmicos e se diferenciam, segundo o medievalista, das demais conforme o objetivo e a capacitação de seus autores (ECO, 1986, p. 9). Contudo, um detalhe que não podemos esquecer é que a atividade intelectual, produzida por um indivídiduo localizado temporalmente e espacialmente, reflete também as preocupações e os estágios vividos da sociedade em que se insere. Neste sentido, o “sonho” da Idade Média pode impregnar a historiografia e o desafio que se coloca é uma reflexão sobre as aspirações presentes nela, considerando o contexto de produção e o próprio campo de estudos.


As obras apresentadas neste trabalho foram selecionadas justamente por constituírem verdadeiros eixos norteadores da produção intelectual, consagradas e constantemente revisitadas por historiadores. Os Reis Taumaturgos, publicado no de 1924, pelo renomado historiador Marc Bloch, propõe uma análise do significado cultural da realeza medieval a partir das crenças milagrosas atribuídas aos monarcas e chamando atenção para um novo modo de pensar a história política: uma dimensão quase mítica que abrange as representações, os símbolos e os rituais, traçando, deste modo, interligações possíveis com a antropologia do poder.


No esteio da percepção do papel simbólico atribuído ao poder régio, Ernst Kantorowicz, em 1957, trouxe a obra Os dois Corpos do Rei destacando a produção e a veiculação da ideia de que o monarca tinha um corpo um humano, material e finito, e outro místico, sagrado e imortal. O método salientado por Bloch e continuado por Kantorowicz atingiu maiores proporções na década de 1970, quando estudiosos da Nova História criticaram a produção historiográfica comprometida prioritariamente com a narração dos acontecimentos, das grandes batalhas e dos heróis. Estudos como os de Jacques Le Goff, Georges Duby, Claudine Haroche, Peter Burke, Alain Guerreau, Alain Boureau e Jean Claude Schmitt desempenharam significativo papel em torno dos problemas relacionados às imagens, aos rituais e aos símbolos do poder. 


Já o trabalho do historiador belga Henri Pirenne, Maomé e Carlos Magno: O impacto do Islã na civilização europeia foi uma publicação póstuma, do ano de 1937 e se tratava do desenvolvimento de uma série de teses que ganharam notoriedade ainda na década de 1920, quando o autor publicou o artigo Mahomet et charlemagne. Para Pirenne, o fechamento do comércio mediterrânico é fundamental para compreensão da história medieval europeia, porquanto sem o comércio ao sul do continente, as trocas comerciais foram deslocadas para o Norte, mas não na mesma medida que nos tempos antigos. A economia europeia se encolheu, tornando-se primordialmente agrária e propícia para outro ordenamento, que foi capitaneado, segundo Pirenne, pelos carolíngios, ampliando assim a influência dos francos nesta nova configuração.


José d’Assunção Barros evidencia a importância de Pirenne para formação de proeminentes historiadores como Marc Bloch e Fernand Braudel, pois, a obra do historiador trouxe ao debate elementos que podem ser caracterizados como culturais e socioeconômicos. Tais aspectos, que por sua vez, ampliaram o escopo da pesquisa e produziram análises mais complexas para as sínteses historiográficas. O que contrastava com o que era produzido até aquele momento, quando os textos de história tratavam, sobretudo, do campo político (BARROS, 2013, p. 319). Grande parte das ideias contidas na obra foram contestadas no decorrer do século XX, mas, daquilo que foi sublinhado, escaparam apontamentos do gênero que esse artigo se propõe a fazer. 


Vislumbres das noções sobre a Idade Média ressoam na tese central dos dois autores. Enquanto Bloch vale-se de uma série de elementos contextuais, servindo-se ainda do “mito de origem”, para explicar a crença da divindade régia, Pirenne desloca o momento de queda do comércio ocidental para expansão muçulmana, no século VII e VIII, ao invés de ser no fim do Império Romano do Ocidente, durante o século IV. Com isso, os historiadores confirmam o que seria essencial para definir o período medieval, isto é, ser uma época de fantasias e declínio. De acordo com Umberto Eco, o período medieval é, por vezes, caracterizado como:


[...] uma era bárbara, uma terra de sentimentos elementares e proibidos. Estas são as Idades Médias das fantasias de Frazetta, mas, em um nível diferente de complexidade e obsessão, elas também são as Idades Médias do jovem Bergman. As mesmas paixões elementares podem existir igualmente sobre as costas fenícias ou no deserto de Gilgamesh. Estas eras são sombrias par excellence, e o Ring de Wagner per se pertence ao crepúsculo dramático da razão. Apenas com uma leve distorção, pede-se que alguém celebre, nesta terra de virilidade e força bruta, as glórias de um novo arianismo. É um medievalismo peludo, com seus castelos tormentosos e seus fantasmas. Germano até a crueldade oriental do Vathek, estas Idades Médias retornam em algumas óperas espaciais contemporâneas, onde basta colocar computadores em um calabouço para transformá-la em uma nave espacial (ECO, 1986, p. 8). 


Embora Bloch e Pirenne não grafem a Idade Média com tintas tão fortes e soturnas, os autores não deixam de caracterizá-la como um período retrógrado. No primeiro caso, o que se entrevê é um modo de compreensão do mundo sacralizado, mas, não destituído de desejos e atitudes humanas no âmbito da vivência econômica, política, social ou sensível, que levou o historiador à conclusão de que tudo teria sido um “erro coletivo”. No segundo, ainda que Pierenne que reconheça a Idade Média como à época de começo de uma nova civilização, mesmo assim, trata-se de um tempo apequenado, por não ser o Antigo, como também não é completo, é só parte do que seriam as nações no futuro. 


As Idades Médias em torno da cura das escrófulas  

Em prefácio do livro Os reis taumaturgos, Jacques Le Goff traça um verdadeiro resumo dos aspectos relevantes da biografia de Marc Bloch e, que, certamente, influenciaram a construção desta obra de leitura indispensável e clássica. O medievalista aponta como itens a amizade do trio da Fondation Thiers; a passagem pela universidade Estrasburgo; o contato com pesquisadores alemães e a Grande Guerra, que se estende do ano de 1914 a 1918 (BLOCH, 1993, p.10). Neste último ponto encontram-se elementos caros para inscrição da Idade Média como um período de certa decadência.


Bloch tinha vinte e oito anos quando se iniciou o conflito bélico entre as potências europeias. Ele lutou como soldado, chegando a receber uma condecoração por valentia e bravura por parte de seu país, a França. Carlo Ginzburg diz-nos que os Reis Taumaturgos surgiu a partir da sua experiência na guerra, marcada pela violência e pelo contato com os demais soldados. Segundo o historiador, Bloch viu ali a reconstrução de uma sociedade quase medieval, a regressão a uma mentalidade “bárbara e irracional” (BLOCH, 1993, p.12). A escrita de Bloch, deste modo, claramente o situa em um tempo marcado pelo sistema ofensivo da Grande Guerra – de um “espetáculo” de mutilações e mortes – e pela circulação de falsas notícias que circulavam e se efetivaram na mentalidade coletiva. 


Ao adentrar no contexto das Grandes Guerras e a produção intelectual de Bloch chama-se atenção também para o fato de que o escritor viveu durante a época da campanha que marcaria o apogeu do nacionalismo na França. Segundo Jougi Yamashita, “em todos os Estados beligerantes pairava entre os cidadãos a ideia de que responder ao apelo da nação era cumprir o dever de patriota e de revolucionário” (YAMASHITA, 2014, p. 50). França e Alemanha estavam no ápice de sua rivalidade imperialista. A primeira havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo se fez presente quase que como uma estratégia para recuperar o orgulho nacional ferido: 


[...] é um facto que o conflito global das duas coligações teve a sua origem nas rivalidades imperialistas, mas os combates singulares que opuseram as nações uma por uma e respondiam a uma outra necessidade, a uma tradição enraizada no mais profundo da consciência dos povos. Cada um deles pressentia que estava ameaçado na sua própria existência pelo inimigo hereditário. Para todos, o conflito obedecia assim a uma espécie de rito fatal, o que explica o caráter da luta “de vida ou morte”, um aspecto que a natureza imperialista desta guerra não explicaria. (FERRO, 1990, p. 141)


O que nos instiga, na verdade, é pensar em medida o enaltecimento do sentimento nacionalista que se exacerba na França do século XX pode ter atingido a escrita de Bloch. O tema da realeza sagrada e da taumaturgia, bem como a disputa por prestígio entre a monarquia francesa e inglesa em torno da reivindicação do toque régio – acirrando a rivalidade entre esses reinos – pode ligar-se, quase que de imediato, as Idades Médias das identidades nacionais de Eco, inscrevendo uma organização social idealizada. Contudo, devemos ressaltar que Marc Bloch está preocupado em problematizar o porquê da noção da realeza sagrada – presente ao longo da História Medieval – obter tamanha notoriedade no século XI, na França Capetíngia, e no século XII para os ingleses Plantagenetas. 


O historiador se volta para o contexto a fim de “evocar o aspecto perceptível sob o qual esse poder corporificou-se aos olhos dos homens” (BLOCH, 1993, p. 91). Notadamente, o Ocidente Medieval viu reunir-se em torno de lendas antigas, das quais atribuíam às personagens régias determinada divindade – pois a população não se resignaria a ter como soberanos simples senhores terrenos. As disputas ideológicas entre o poder régio e o poder espiritual, a economia fragilizada e a carência de recursos científicos relacionados à saúde humana também serviram à objetivação da crença, mediante a assistência da Igreja e de ritos repletos de simbolismos. Desencadeia-se, assim, um quadro imprescindível para legitimação poder régio, de distinção e de disputas monárquicas pela credibilidade no processo de cura das escrófulas. 


Caminhando para o neomedievalismo de Umberto Eco, a noção de Idades Médias nos permite olhar para a forma como Marc Bloch significa a taumaturgia régia também como um movimento de mobilização do sentimento de fidelidade; um esforço presente no século XX para exaltação dos impérios. O medievalista destaca que o fenômeno histórico nasce na França, por volta do ano 1000, e só depois chega à Inglaterra. Preocupado com a construção de uma mentalidade uniforme e coerente, à qual se associa a ideologia que enaltece a política interna e que, mesmo quando entra em decadência, “está intimamente ligada a esse esforço dos espíritos, pelos menos da elite, para eliminar da ordem do mundo o sobrenatural e o arbitrário” (BLOCH, 1993, p.252), Bloch não deixa de evidenciar, contudo, a Idade Média a partir das identidades nacionais


As novas propostas e as antigas noções em Maomé e Carlos Magno:

Os capítulos três e quatro, A vida intelectual após as invasões e A expansão do Islã no Mediterrâneo, respectivamente, foram escolhidos para análise por serem a parte central da obra de Pirenne. Na primeira seção, o autor desenvolveu sua arguição a partir de dois eixos argumentativos, o primeiro deles é a manutenção da antiguidade como polo de produção intelectual e cultural. Esta continuidade se deu por duas vias, a primeira delas foi a expansão das ideias romanas, embora não os do período clássico., mas aquelas permeadas de cristianismo e a segunda, a permanência no eixo de influência do império romano do Oriente.


A religião cristã tem como uma de suas características o proselitismo (BROWN, 1999) e como tal, parte significativa da experiência de devoção consistia em evangelizar as populações distantes dos centros cristãos como Roma, Constantinopla ou Egito. À medida que estes homens imbuídos do desejo de conversão dos pagãos avançavam em território, também levavam com eles modos de pensar e agir do mundo romano, a identificação entre cristianização e romanização era latente. Conforme o avanço se operava, a comunicação entre os grupos tornava-se mais complexa, visto que, as diferenças entre os atores sociais se tornavam mais evidentes. Para que essas interações acontecessem, transformações se fizeram sentir neste convívio. No texto de Pirenne, essas mutações são classificadas como vulgarização da cultura latina.


Igualmente, Pirenne retira dos europeus a culpa por este embaçamento da cultura antiga, pois segundo ele, os povos germânicos não teriam contribuído para esta nova realidade.

Quando trata sobre esse aspecto, pode parecer inicialmente que o historiador está desatento a dinâmica das interações sociais, descredibilizando qualquer contribuição que poderia ser atribuída às populações de origem germânica. Mas o que o autor estava fazendo, à época, era ir além de um debate, no qual se opunham pesquisadores preocupados em demonstrar como as histórias nacionais de seus países eram herdeiras do passado romano, enquanto as demais nações teriam sido responsáveis pela degradação desses valores, ou tentavam evidenciar a particularidade da experiência históricas de seus determinados Estados na formação da civilização ocidental (PIRENNE, 2010, pp. 7-13).  A estas discussões, Pirenne responde que a influência romana continuou ativa em toda região, e que tal dado somente começaria a ser alterado com a introdução de outro elemento, o Islã. Este outro, advindo do exterior, teria provocado mudanças profundas, que não remodelaram somente um espaço do território compreendido como Europa, mas afetaram toda região, e possibilitaram uma nova ordem social, que de igual modo, não ficou restrita a um povo, ou a uma nação.


Sobre o impacto do Islã, o autor começa a tratar no capítulo quatro. Nas primeiras páginas de seu texto, o autor imprimiu interessantes possibilidades para compreensão dos eventos que desencadearam a emergência deste importante ator social. Para explicar esse processo, o historiador discute que em grande medida, a ascensão do Islã foi inesperada, e que os tradicionais impérios, como o romano e o persa dedicavam pouca atenção para aquela região do mundo, 


Desta forma, na obra Maomé e Carlos Magno, a fronteira gerada pelas conquistas islâmicas permanece na análise, uma vez que, este que se encontrava fora do mundo europeu, ou até mesmo do mundo antigo, permaneceu como um estranho. Visto que, pouco foi dito sobre a sua constituição e sobre o império que tanto afetaria os destinos da Europa.


Pirenne como um homem e um pesquisador de seu tempo, se atentava às questões que estavam em voga no período de sua escrita, o que chama a atenção, no entanto, é que em grande medida, o enfoque na história europeia permaneça. Evidente, que a barreira da língua, da distância, dentre outras dificuldades contribua para este quadro. Não obstante, pouca atenção se dá ao aspecto relacional das sociedades medievais, principalmente, no que tange ao alcance do que era produzido no mundo islâmico e suas implicações na sociedade europeia, por exemplo.


Ao contrário, o autor disserta sobre a construção de um limite. Essa fronteira que não só cimenta a divisão entre duas sociedades, também isola a Europa, pois, se seguirmos o texto de Pirenne, o Islã foi responsável por isso, dado que, seu controle do Mediterrâneo teria impedido o acesso dos europeus ao mar, ao comércio engendrado por ele, bem com as trocas entre os grupos humanos que impossibilitavam o intercâmbio. 

Sendo assim, a Europa foi isolada do restante do mundo. Para o autor esse retraimento confirma a chegada do período medieval, como fase de esfriamento das relações entre as várias sociedades. Esse olhar direcionado a Idade Média salienta uma perspectiva que toma a Europa como centro da ação, trazendo menos luz ao que estava acontecendo do outro lado da fronteira, a não ser que ajudem a explicar o processo histórico europeu.


A partir desta arguição, o Ocidente foi posto separado de outras partes do mundo. À vista disso, o autor se dedica a comentar sobre a importância dos habitantes da região para a construção de uma nova civilização. Se no capítulo anterior, Pirenne denuncia a ausência de participação dos germânicos na sociedade após o enfraquecimento político do Império Romano do Ocidente, por outro, é a eles que o historiador dá o crédito pela reconstrução da Europa, após a expansão islâmica. 


Duas importantes perspectivas podem ser apreendidas através do texto de Pirrene. Uma diz respeito ao papel dos germânicos, a outra é como o autor evidencia a importância do Império Carolíngio diante dessas novas demandas. Ele era diferente de Bizâncio, ele combateu os muçulmanos (PIRENNE, 2010 p. 219), ele era o centro de gravitação das novas praças comerciais, bem como ele pode ser usado como referência para diversas nações europeias. Quando Pirenne deu este destaque ao governo carolíngio, o fez como forma de demonstrar uma espécie de origem europeia, que não está limitada aos marcadores do estados-nacionais, antes advém de uma experiência histórica que pode ser reclamada por vários grupos, ou por todos


Como salientado por Umberto Eco (ECO, 1986, p. 8), a Idade Média é entendida como uma época de origens, e embora, o autor denuncie que isto se deu através de um discurso nacionalista, no texto de Pirenne, essa identidade também pode ser estabelecida para além da identidade pátria. Assim, como para emergência da ideia de uma Europa, para qual a noção de fronteira ganha um significado mais profundo. Em razão dessa divisão tão marcada, retira-se de qualquer outro povo alguma relevância para ascensão da sociedade europeia e realça a singularidade dessa civilização, nascida dos germânicos, sobretudo, no período carolíngio, que precisou lidar com as fronteiras erguidas pelos muçulmanos.


Referências bibliográficas: 

BARROS, José D’Assunção. “Henri Pirenne- Considerações sobre sua obra historiográfica”. Revista Antíteses, Londrina, v6, n12, pg. 318- 340, jul/dez. 2013.

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

BOUREAU, Alain. INGERFLOM, Claudio-Sergio. La Royauté Sacrée dans le monde Chértien. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1992.

DARTON, Robert. O grande massacre de gatos: e outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. Recisão Técnica de Ciro Flamarion Cardoso. 2 ed - Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1988. .

DUBY, Georges. As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo. Lisboa: Editorial Estampa, 1982.

ECO, Umberto. “Sonhando com a Idade Média”. Tradução livre do capítulo “Dreaming of the Middle Ages”, presente na obra “Travels in hyper reality” de Umberto Eco (1986), aos cuidados do Prof. Dr. Renan M. Birro (UPE/Mata Norte).

FERRO, Marc. A Grande Guerra (1914-1918). Lisboa: Edições 70, 1990.

HOBSBAWN, Eric. J. A era dos impérios: 1875-1914. Trad. Sieni Maria Campos e Yolanda Steidel de Toledo; revisão técnica Maria Celia Paoli. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. P 87-124.

______. Sobre história. Tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

LE GOFF, Jacques. “A História Política continua a ser a Espinha Dorsal da História?”. In: O Imaginário Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.

PIRENNE, Henri. Carlos Magno e Maomé: o impacto do islã sobre a civilização europeia. Rio de Janeiro: Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2010.

SILVA, Marcelo Cândido da. A realeza cristã na Alta Idade Média: o fundamento da autoridade pública no período merovíngio (séculos V-VIII). São Paulo: Alameda, 2008.

WORKMAN, Leslie J. "Medievalism Today". In: Medieval Feminist Newsletter 23, 1997. Apud: JUNIOR, João Batista da Silva Porto. “As expressões do medievalismo no século XXI”. Anais do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parceira. https://www.encontro2018.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1529331940_ARQUIVO_AsExpressoesdoMedievalismonoSeculoXXI.pdf. Acessado em 22/10/2019.

YAMASHITA, Jougi. “As memórias de Marc Bloch sobre a Grande Guerra (1914-1918)” In: Transversos: Rio de Janeiro. v. 01, n. 01, fev. 2014, p. 45-61. Disponível em: www.transversos.com.br. Acesso em 17/10/2019.

Comentários

  1. Keila e Camille, bom dia.

    Parabéns pelo texto! Achei o material bem instigador. Gostaria de fazer dois comentários que podem ser úteis no futuro.

    Primeiro, a produção de uma narrativa quase santoral por parte dos Annales em torno de Marc Bloch - que seria, em algum grau, medievalizante. Naturalmente, este comentário não pretende diminuir seu papel como historiador nem diminuir sua relevância, mas talvez fosse possível pensá-lo na condição de (uma espécie de) mártir. Deste modo, o nacionalismo pungente em sua narrativa seria minorado diante das qualidades quase inatas do medievalista francês... talvez seja algo interessante a se pensar.

    Quanto ao Pirenne, ele era eminentemente um nacionalista belga que ficou muito "pistola" após a prisão e exílio na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Vale a pena consultar o capítulo sobre ele no livro "The Modern Origins of the Early Middle Ages", do prof. Ian N. Wood. Nesta obra é possível alcançar outras publicações do autor que esclarecem um pouco o background da escrita de Maomé e Carlos Magno.

    Bom evento!

    Renan Birro

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    1. Obrigada Renan. Suas perspectivas trazem novas possibilidades de trabalho que serão acrescidas às nossas reflexões, tanto no que diz respeito a problematizar a própria construção medievalizante de Marc Bloch, além de um estudo da obra em si. Em relação ao Pirenne, agradeço a sugestão de leitura, com certeza contribuirá para melhor contextualizarmos a obra.

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  2. Parabéns pelo texto. Achei muito interessante as questões levantadas, as possibilidades de debate. Gostaria de perguntar Que motivos levaram a preferir essa obra de Pirenne e não o livro sobre as cidades medievais.
    Sabina dos Santos Costa Freitas

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  3. Parabéns pelo texto. Achei muito interessante as questões levantadas, as possibilidades de debate. Gostaria de perguntar Que motivos levaram a preferir essa obra de Pirenne e não o livro sobre as cidades medievais.
    Sabina dos Santos Costa Freitas

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    1. Obrigada Sabrina. Esse texto foi idealizado em meio as aulas do professor Marcelo Berriel na Ufrrj, desta forma, tanto obra de Bloch como de Pirenne eram parte integrantes dos debates em sala, que foram a base para nossas reflexões.
      Bom dia.

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  4. Bom dia.

    Primeiramente, parabéns às autoras pelo interessantíssimo artigo!

    Minhas perguntas são: Nas ideias de Ernst Kantorowicz, da dualidade monárquica entre corpo humano e corpo místico, e no apontamento de Marc Bloch de que as populações medievais não se contentariam em ter como soberanos “simples humanos”, podemos pensar este aspecto sacro dos líderes políticos como permanências dos impérios da antiguidade? Do culto ao principado romano ou do louvor aos faraós como deuses terrenos? Ainda, pode-se verificar a noção de escolha divina atribuída às monarquias modernas, também como permanências desta sacralidade que possuíam as coroas medievais?

    Desde já, muito obrigado!

    Felipe D. Ruzene.

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    1. Obrigada Felipe. Como pesquisadores podemos explorar diversos aspectos da vida em sociedade, portanto, é possível traçar paralelos entre os desenvolvimentos dos termos que sustentam a legitimidade de um dado poder, em diversos períodos da história. Contudo, nos chama mais atenção, as características de uma determinada sociedade e como ela se organiza suas várias instâncias da vida social e, neste caso, mesmo que haja certas noções de poder advindas de outros grupos, é interessante entender como essa sociedade os interpretam e como os leem à luz de seus próprios contextos.

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  5. Parabéns pelo texto, muito produtivo e de bom entendimento

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    1. Obrigada pelo comentário. Ficamos felizes em saber!

      Camille Leandro.

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  6. Parabéns pelo texto. Lendo o texto percebo uma análise da construção historiográfica sobre Idade Média em dois importantes pesquisadores europeus sobre o tema. Gostaria de saber como seria possível relacionar a análise entre eles, ou seja, de que forma podemos associar a idade média de Marc Bloch com a de Pirenne justificando a escolha por colocar os dois juntos no texto?

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    Respostas
    1. Olá, obrigada pela pergunta. Tentamos ressaltar que a produção francófona de Pirenne e Marc Bloch persegue as “origens” de seus objetos de estudos dando destaque para a Europa, mais precisamente a própria França. Nesse sentido, a Idade Média que ambos inscrevem não deixa de dialogar com uma perspectiva nacionalista, de uma Europa que se deflagrou em guerras para reforçar a identidade religiosa e/ou para reforçar o pertencimento ao espaço.

      Camille Leandro

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  7. Achei a abordagem muito interessante.
    Gostaria de saber se há algo em comum entre as duas obras selecionadas e se vocês indicam para uma leitura cotidiana, ou não seria possível caso a obra seja de difícil compreensão ou muito densa?

    Atenciosamente,
    Jackiely de Lima Feitosa

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  8. Obrigada, Jackiely.

    Podemos destacar que, à sua maneira, cada autor se preocupa em estudar questões políticas na Idade Média dando ênfase a dimensão cultural, as trocas e as interações (por vezes ofensivas) que se estabeleceram entre os povos. Ao mesmo tempo ambos não deixam de vislumbrar uma Idade Média continental e marcadamente cristã. Considerando o contexto de produção em que os historiadores estão inseridos, a ligação é também significativa. Inclusive, em1920, Lucien Febvre convidou Pirenne para dirigir uma revista sobre História econômica. Convite, este, que seria refeito oito anos depois para criação dos “Annales d’historie économique et sociale”.
    Sobre a leitura, apesar de se tratarem de textos densos, no sentido de constituírem investigações detalhadas, a escrita em si tem uma cadência simples e aprazível. As propostas metodológicas anunciadas por Marc Bloch e Henri Pirenne ganham contornos quase que pedagógicos, provavelmente por intencionar certo afastamento das correntes do século XIX.

    Camille Ferreira Leandro

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  9. Keila e Camille, Boa tarde.
    Parabenizo a apresentação de vocês.
    Com a abordagem acima, demonstraram, guardadas as singularidades, a importância das obras de Bloch e Pirenne para aquele período e para tempos vindouros, não apenas no sentido historiográfico, mas teórico e metodológico.
    Nesse sentido, gostaria que discorressem um pouco acerca da vitalidade e da importância dessas obras para a historiografia de hoje. Nesse processo, se possível, comentarem a respeito das limitações de algumas de suas teses, como é o caso de Peregrine Horden e Nicholas Purcell em “The Corrupting Sea” ao contestarem a tese de Pirenne sobre o deslocamento do eixo comercial para o Norte.
    Agradeço a atenção!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada José Walter, as obras de Bloch e Pirenne são fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa histórica, sobretudo, a produção elaborada a partir das Escolas dos Annalles. As bases lançadas por Marc Bloch cimentaram o caminho para os estudos subsequentes sobre os diversos matizes que envolvem a legitimação do poder régio e pensaram no domínio da história política para além dos recortes institucionais. Já Henri Pirenne, trouxe ao debate alguns pontos que contribuíram para pensar a Idade Média em termos que não se restringiam a discussão sobre a oposição entre mundo bárbaro e mundo romano. Por outro lado, a sua compreensão a respeito do isolacionismo europeu imprime uma importância ao Império Carolíngio que não revela o aspecto relacional das dinâmicas entre as sociedades. Neste sentido, ainda poderia se acrescido que sua preocupação em demonstrar como a Europa teria ficado sem acesso ao Mar Mediterrâneo, demostra um viés que toma o comércio como eixo enérgico dos acontecimentos históricos.

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  10. Boa noite! Parabéns pelo artigo. Achei interessante você abordar a noção de Idades Médias de Umberto Eco e como a "vivência" de Bloch durante a Grande Guerra influenciou em sua escrita sobre o período. Me fez pensar em como o CARR descreve a relação entre historiador e fato. É possível dizer que a "vivência" sempre influenciará a forma como o historiador olha para a Idade Média e a retrata? Sendo assim, existe algo na abordagem de Pirrene que o teria influenciado em Maomé e Carlos Magno?

    Gabriela Gomes Cerqueira

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    Respostas
    1. Obrigada Gabriela, a escrita da história está em consonância com as preocupações de seu tempo, tanto no estudo sobre a Idade Média como nos demais períodos históricos, como dito por Lucien Febvre “a história era filha de seu tempo”. Contudo, a observação de métodos de trabalho apurados colabore para que a escrita da história não fique restrita a impressões de um tempo sobre o outro. Tanto Bloch como Pirrene são historiadores do início do século XX e a perspectiva de uma escrita nacionalista da história era o meio nos quais estão envolvidos, nesta perspectiva, pode-se entender que suas obras estão em diálogo com este viés dos estudos históricos. No caso de Herni Pirrene é possível vislumbrar uma preocupação em contar uma história da idade média como um período fundador, ainda que não trate de um país específico, o autor compreende o Império Carolíngio como fundamento para história europeia.

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